Um novo lote de documentos secretos com detalhes da segurança nacional dos Estados Unidos da Ucrânia ao Oriente Médio e à China surgiu em sites de mídia social na sexta-feira (7), alarmando o Pentágono e adicionando turbulência a uma situação que parece ter pegado o governo Biden desprevenido, noticia o jornal The New York Times.
Diz a reportagem:
A escala do vazamento – analistas dizem que mais de 100 documentos podem ter sido obtidos –, junto com a sensibilidade das informações, pode ser extremamente prejudicial, disseram autoridades. Um alto funcionário da inteligência chamou o vazamento de “um pesadelo para os Cinco Olhos”, referência aos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, nações que compartilham essa inteligência.
Os documentos foram postados no Twitter e outros sites de mídia social nesta sexta, um dia depois que altos funcionários do governo Biden disseram que estavam investigando um possível vazamento de planos de guerra da Ucrânia, incluindo a avaliação das capacidades de defesa aérea ucranianas. Um slide, de 23 de fevereiro, está marcado como “Secret/NoForn”, ou seja, não foi feito para ser compartilhado com países estrangeiros.
Mick Mulroy, um ex-alto funcionário do Pentágono, disse que o vazamento dos documentos secretos representava “uma violação significativa na segurança” e poderia atrapalhar o planejamento militar ucraniano. “Como muitos deles eram fotos de documentos, parece ter sido um vazamento deliberado feito por alguém que desejava prejudicar os esforços da Ucrânia, dos EUA e da OTAN”, disse ele.
Um analista descreveu o vazamento como a “ponta do iceberg”. No início desta sexta-feira, altos funcionários da segurança nacional dos EUA que lidam com o vazamento inicial, que foi relatado pela primeira vez pelo New York Times, disseram que uma nova preocupação surgiu: essa informação foi a única informação de inteligência que vazou?
A resposta apareceu algumas horas depois, durante a tarde: Enquanto os funcionários do Pentágono e das agências de segurança nacional investigavam a origem dos documentos postados no Twitter e no Telegram, outro lote de informação apareceu no 4chan, uma plataforma de mensagens anônimas. O documento do 4chan é um mapa que pretende mostrar a situação da guerra na cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, palco de uma batalha por meses.
Porém, os documentos vazados parecem ir muito além do material sobre os planos de guerra da Ucrânia. Analistas de segurança que revisaram os documentos publicados nas redes sociais dizem que essa mina de ouro estratégica também inclui slides de informações confidenciais sobre a China, o teatro militar Indo-Pacífico, o Oriente Médio e o terrorismo.
Em comunicado na quinta (6), o Pentágono disse que o Departamento de Defesa estava investigando o assunto. Em off, funcionários de várias agências de segurança nacional reconheceram a pressa para encontrar a fonte dos vazamentos quanto a chance de um potencial “gotejamento” constante de informações classificadas postadas em sites.
Os documentos sobre as forças armadas da Ucrânia aparecem como fotografias de gráficos de entregas de armas antecipadas, posição de batalhões e outros planos. Funcionários do Pentágono reconhecem a legitimidade dos documentos – criados pelo Departamento de Defesa, mas as cópias parecem ter sido alteradas em certas partes de seu formato original. As versões modificadas, por exemplo, exageram as estimativas americanas de mortos de guerra ucranianos e subestimam as estimativas de soldados russos mortos.
Na sexta-feira, autoridades ucranianas e blogueiros russos pró-guerra sugeriram que o vazamento fazia parte de um esforço de desinformação do outro lado, programado para influenciar a possível ofensiva da Ucrânia na primavera para recuperar território no leste e no sul do país.
Um alto funcionário ucraniano disse que o vazamento parece ser uma manobra russa para desacreditar uma contra-ofensiva da Ucrânia. E os blogueiros russos alertaram contra a confiança em qualquer informação nos documentos – um blogueiro disse que o vazamento poderia ser obra da “inteligência ocidental para enganar nosso comando”.
Em portas fechadas, irritados oficiais de segurança nacional dos EUA tentavam encontrar o culpado do vazamento. Um funcionário acredita que os documentos não tenham vindo de autoridades ucranianas, porque eles não tiveram acesso aos planos específicos, criados pelo Estado-Maior do Pentágono. Outro funcionário disse que determinar como vazamento aconteceu passa pela identificação de quais funcionários tiveram acesso a eles.
A primeira parcela de documentos parece ter sido postada no início de março no Discord, uma plataforma de bate-papo de mídia social popular entre os jogadores de videogame, de acordo com Aric Toler, analista do Bellingcat, site investigativo holandês.
Na Ucrânia, o tenente-coronel Yurii Bereza, comandante de batalhão da Guarda Nacional ucraniana cujas forças lutaram no leste do país nos últimos meses, minimizou a notícia do vazamento. Ele observou que a guerra de informação tem sido tão intensa que “não podemos mais determinar onde está a verdade e onde está a mentira”.
*Tradução de Charles Nisz