Todo mundo acompanhou, estarrecido, triste, perplexo, por meio dos jornais ou das redes, o massacre de Blumenau, em Santa Catarina, onde quatro crianças foram mortas de forma cruel por um sujeito que pulou o muro da creche e, com uma machadinha e um canivete, saiu agredindo aquelas que estavam no pátio da escola naquela manhã.
Somos um país que, por sua formação social excludente e racista, é marcado pela violência cotidiana contra a parcela mais pobre da sociedade, submetida à constante violência policial ou aos ditames de criminosos que controlam os territórios onde vivem e o Estado não se faz presente.
Nos últimos tempos, no entanto, esse tipo de crime de motivação torpe, com ataques letais a escolas, tem crescido no Brasil.
Não há como deixar de associar o aumento deste tipo de ação ao governo anterior. Não faz muito tempo, tínhamos um presidente que estimulava o uso da violência, o porte de armas, o desprezo pela vida, a destruição do outro, o extermínio do diferente, a naturalização da intolerância, o cultivo do ódio à educação e à razão.
Nesta quarta-feira (12), o ministro Camilo Santana estará na Comissão de Educação da Câmara, da qual faço parte. À luz dos trágicos acontecimentos, será uma oportunidade de discutir ações para coibir a violência nas escolas.
Esse cenário não se altera de uma hora para outra. É preciso cautela para enfrentar o problema com soluções efetivas, que passam, inclusive, pela valorização do profissional de Educação, com o cumprimento do piso salarial e a garantia de seus direitos.
Uma iniciativa pertinente seria colocar em prática a lei 13935/19, que implementa redes de psicologia e serviço social nas escolas. Além disso, é fundamental garantir a presença de inspetores e porteiros concursados em cada unidade escolar.
É urgente investir em inteligência e monitoramento de ameaças reais (e das fake news) fomentadas por grupos de ódio nas redes sociais, a fim de alimentar o pânico e estimular ações violentas nas escolas.
São necessárias, também, ações integradas entre os governos federal, estadual e municipal, escola e comunidade, com a clara definição de protocolos de ações preventivas, como, por exemplo, a suspensão de operações policiais letais em comunidade nos horários de aula, para que não se repita o que aconteceu recentemente na Maré.
O bom ambiente escolar depende de investimento em infraestrutura, condições de trabalho dignas, construção de ambientes acolhedores e saudáveis.
É preciso dar um basta à violência nas escolas!
*Chico Alencar é escritor, professor de História e deputado federal eleito pelo PSOL-RJ