O “zero à esquerda”, como Carlos Bolsonaro voltou a ser chamado na Câmara de Vereadores, deu uma dentro na sessão desta quarta, 19. Conseguiu aprovar em 1a votação o projeto de Lei 1158/2022 que declara Anguillara Veneta cidade-irmã do Rio de Janeiro.
Veneta, que se localiza entre Pádua e Rovigo, na região norte da Itália, é uma vila de apenas 4 mil habitantes, de onde vieram os antepassados do clã Bolsonaro.
A cidade é administrada por Alessandra Buoso, do partido de extrema direita Liga Norte.
Em 2021, Bolsonaro causou rebu na região ao comparecer para receber o título de Cidadão Honorário, honraria que boa parte dos municípes locais contesta na Justiça.
Apesar da vitória em plenário, o mar não está para peixe para Carluxo.
Quem acompanha seu dia a dia no parlamento diz que ele está no modo pianinho.
– Voltou a ser discreto como era antes do pai ser presidente, diz ao DCM uma fonte do parlamento carioca. Se não mexem com ele ou com Bolsonaro, fica na dele. Tem muito a perder, né?
Motivos para baixar a bola de fato não faltam: a 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do RJ já recebeu e vai estudar o laudo sobre o destino das verbas usadas na contratação de pessoal do gabinete do vereador.
Esse estudo, ainda sigiloso, é determinante no procedimento instaurado para investigar a prática de rachadinha e contratação de funcionários fantasmas pelo filho do ex-presidente.
Envolve 7 parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro e madrasta do vereador.
Todos foram empregados no gabinete de Carlos, mas não compareciam ao trabalho – a maioria até já admitiu publicamente que recebia salários sem nunca aparecer para dar expediente, denotando que esses trabalhadores devolviam os proventos ou parte deles ao parlamentar.
Em outra instância, Carlos é investigado no inquérito das milícias digitais, que a PF já identificou como uma estrutura paralela que funcionava dentro do Palácio do Planalto durante o governo de Jair Bolsonaro.
Um relatório em posse do ministro Alexandre de Moraes fala da existência do ‘gabinete do ódio’, coordenado pelo filho zero 2 do ex-presidente, como um grupo de pessoas que se uniram “de forma estruturalmente ordenada, com unidade de desígnios e divisão de tarefas (produção, difusão e financiamento), com o objetivo de obter vantagens financeiras e/ou político-partidárias por meio da produção e divulgação de informações (texto, imagem e vídeo) em meios de comunicação (redes sociais ou canais de comunicação), de notícias fraudulentas, falsas comunicações de crimes, violação de sigilo funcional, ameaças e crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria), lesando ou expondo a perigo de lesão o Estado democrático de direito e a independência e a harmonia entre os Poderes, ocultando ou dissimulando a natureza, origem, movimentação ou propriedades de valores decorrentes da atividade criminosa”.
Na sessão remota desta quarta, 19, além de defender o PL 1158/2022, Carluxo se uniu ao vereador Rogério Amorim, irmão de Rodrigo Amorim, deputado que quebrou a placa da Marielle, para tentar criar uma nova narrativa para o 8 de janeiro, obvio que no afã de jogar a culpa da barbárie no colo do governo e do PT.
Nesta semana, num linguajar inintelegível, renunciou ao controle das redes sociais do pai, prometendo se dedicar mais à própria vida.
– Ao longo da presidência do pai, ele não dava as caras, diz a fonte do DCM na CMRJ. Não saía de Brasília. A COVID e as sessões remotas, somadas ao período de licença, garantiram o sumiço das suas obrigações como vereador.
Em resumo, com o pai semi-aposentado e acossado pela Justiça e MP, Carluxo voltou a ser o que sempre foi: um zero à esquerda.