Nem sociedade, nem escolas: não estamos sabendo educar a nova geração. Por Adriano Viaro

Atualizado em 25 de abril de 2023 às 13:30
Alunos na sala de aula
Foto: Getty/Reprodução

Muito se ouve, se presencia e se vê acerca de jovens que lançam mão de sintomas sérios para poderem participar de grupos e tribos. Quando digo “sintomas sérios”, me refiro à banalização de patologias psicossociais no afã de conquistarem ingressos de pertencimento como forma de analgésico para a baixa aceitação no meio em que vivem.

Se por um lado a sociedade precisa trabalhar o entendimento e a aceitação, em caráter de urgência, da diversidade sexual que caracteriza a própria humanidade, por outro os próprios “entes da diversidade” perdem engajamento pela presença fake de alguns de seus pseudopares.

O que dizer para um transgênero – que sofre diariamente com preconceito e discriminação, apenas por não estar dentro das amarras normativas da sociedade – a respeito de jovens que simplesmente decidem, da noite para o dia, que mudarão de nome (passando de Joana para João) sem enfrentar nenhuma dificuldade (permanecem vestindo, se comportando e tendo hábitos cis), mas que querem exercer o “direito ao nome distinto”.

Me refiro a uma juventude que quer abalar, causar e chocar, mas sem abraçar o que não é opção para quem efetivamente está dentro de tudo aquilo que a sociedade conservadora dita como “anormal”. Uma juventude que quebra conceitos, valores e preceitos consagrados pela sociedade – e que chama de direito “a ser o que quer”.

Não é necessária qualquer expertise para perceber que os objetos de luta e conquista (espaços de poder, nome social, leis punitivas, etc.) foram comoditizados por uma parcela que apenas decidiu que na sua gaveta de ingressos de pertencimento estão também as dores e máculas de pessoas que sofrem por efetivamente não serem aceitas.

Não há dúvidas de que o ente-fake não só enfraquece a militância como banaliza as mais justas causas de ideia, pertencimento e norma.Na mesma esteira – e aqui cabe dizer que os exemplos são infindáveis – temos a automutilação [de causa, sintoma e efeito] fake. Jovens que, para participar “do grupo que se corta”, acabam por dificultar diagnósticos e banalizar a ideia.

Deste modo, a identificação do problema real acaba por ser mascarada por aqueles que apenas acham “fofa” a simulação de algo de raiz muito séria. Grave, eu diria.Para não dizer que não falei das flores, a escola é o terreno mais fértil da emulação de gêneros e depressão, além, é claro, de toda a gama de problemas realmente existentes.

Os educadores, por suas vezes, carregam grilhões imaginários que lhes impedem qualquer tipo de atitude, seja perante sua hierarquia, seja diante das famílias. E estas, é claro, apenas se perdem na conduta de suas proles em um movimento típico de carro sem condutor.

No início deste século, os shoppings centers abrigaram em seus estacionamentos um fenômeno atípico: era a popularização tardia do estilo Emo em sua raiz comportamental. A melancolia se transformava, naquele ínterim, em uma preciosa e preocupante commodity. A automutilação, me parece, ganhava status de acessório estético (ou penduricalho da rebeldia sem causa).

Era, sem dúvidas, um amarelo piscante para todos os efetivamente enfermos de uma miríade de patologias psicossociais. Junto disto, a autoajuda lançava mão da Lei da Atração como forma de arrebanhar os mesmos jovens quando chegassem à maturidade.Depois disso, o que era terreno fértil para a emulação da dor, passou a ser canteiro do apocalipsecoaching. Nada de novo, mas tudo cada vez mais preocupante.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link