Bonner é um mal agradecido.
Queixou-se das redes sociais ao receber um prêmio no Faustão.
Ora, ele tem mais de 6 milhões de seguidores no Twitter, onde se apresenta como Tio, e agora começou a postar no Facebook cenas dos bastidores do Jornal Nacional.
Se é para reclamar de alguém, Bonner deveria mirar é nos telespectadores, e não nos internautas.
O JN, de Bonner, perde continuamente audiência. Em 1996, quando ele assumiu, o Ibope era superior a 40 pontos.
Metade desse público se foi desde então, e neste instante em que escrevo mais pessoas estão deixando de ver o JN.
O JN tenta hoje se manter nos 20 pontos, mas é uma luta perdida, dada a voracidade com que a internet avança sobre todas as mídia, incluída a televisão.
Bonner, com seu JN, foi abandonado por milhões de pessoas nos últimos anos, e continuará a ser nos próximos anos.
Ele e seu chefe, Ali Kamel, formam a dupla mais abandonada da televisão brasileira, mas é preciso reconhecer que o mercado foi mais decisivo para isso do que a capacidade de ambos.
O futuro é complicado para todo jornalista que trabalha nas mídias que não sejam a internet, e não é diferente para Bonner.
Até quando a Globo poderá pagar salários como os que paga a ele e a Kamel no Jornal Nacional?
A resposta é: enquanto a publicidade puder bancar. Mas aí surge uma segunda pergunta: e até quando os anunciantes gastarão milhões numa mídia em declínio.
Qual vai ser o ponto de disrupção? Quando os anunciantes vão dizer: estou pagando muito por uma mídia velha e decadente?
Não é possível precisar ainda.
Imagino que isso ocorra quando a audiência recuar para um dígito, mas pode ser antes, naturalmente.
Em geral, o que ocorre entre os anunciantes é o chamado efeito manada. Um sai e os outros seguem.
É o que está ocorrendo na Abril.
Recentemente, a L’Oreal, durante muito tempo o maior anunciante das revistas femininas da Abril, comunicou que estava saindo da mídia impressa.
Numa conta simplificada, em breve Bonner terá mais público no Twitter que no Jornal Nacional.
Um ponto no Ibope, em São Paulo, equivale a 60 mil lares. O Ibope sustenta – sem comprovação nenhuma – que em cada casa três pessoas em média assistem aos programas de tevê.
Repare: na internet você afere leitor por leitor. Na televisão, existe uma estimativa obviamente inflada, bem como nas revistas e nos jornais.
Em meus tempos de Abril, usávamos a métrica – sabe-se lá de onde tirada – de que para cada exemplar de revista havia quatro leitores. Nós fingíamos que acreditávamos, as agências fingiam que acreditavam, os anunciantes fingiam que acreditavam — e todos éramos felizes nessa crença trôpega.
Segundo o Ibope, o JN em São Paulo, com 20 pontos, é visto em 1,2 milhão de casas. Mesmo aceitando a taxa de três espectadores por lar, você fica em 3,6 milhões de pessoas.
Isso é pouco mais da metade do número de seguidores de Bonner no Twitter. São Paulo não é o mercado nacional, é verdade, mas é a maior parte dele.
Na site da Globo, está escrito que o JN é visto diariamente por 25 milhões de pessoas no país.
Mas quem acredita nisso, como dizia Wellington, acredita em tudo.
Bonner está sendo ingrato com os internautas.
Em algum momento não muito distante, sua carreira vai depender deles e só deles.