O entusiasmo em torno das denúncias sobre a movimentação de dinheiro para Michelle Bolsonaro pode frustrar quem tem grandes expectativas.
Pode se repetir nesse caso o que já aconteceu com uma das remessas de joias das arábias, que seria destinada a Michelle.
Não ficou provado que as joias seriam para ela, não há nada que indique que tivesse envolvimento direto com o caso e o certo é que a ex-primeira-dama escapou.
No caso dos repasses de dinheiro, segundo informações levantadas com o fim do sigilo do celular do ex-ajudante de ordens, coronel Mauro Cid, já há indícios suficientes de que Michelle recebia de fato as quantias.
Sabe-se que duas assessoras participavam do esquema, mas estavam assustadas com o que faziam. Que Mauro Cid também estava preocupado, mas mandava pagar até despesas de um irmão e de uma tia de Michelle com recursos da presidência.
Que uma empresa repassava dinheiro que iria parar numa conta de Michelle. E que o coronel fornecia às duas assessoras recibos de pagamentos suspeitos (pelo menos sete).
E sabe-se de novo, por informação que volta a aparecer agora, que Michelle usava o cartão de uma amiga-laranja, para que os gastos não aparecessem em seu nome.
Tudo isso pode nos informar que, se Bolsonaro não aparecer como mandante (há apenas suspeitas de que ele sabia das operações), Michelle seria apenas beneficiária das movimentações.
O resumo é esse. Havia saque de dinheiro vivo, muito provavelmente do caixa da presidência da República, depositado de forma fracionada numa conta de Michelle.
Uma empresa destinava dinheiro a Michelle. E Mauro Cid pagava contas da ex-primeira-dama com dinheiro do Palácio do Planalto.
Um dado é meio frustrante. Todas as operações com o depósito de dinheiro vivo, com a participação de Mauro Cid, teriam sido feitas em 2021 e movimentado pouco mais de R$ 8 mil.
Quem esperava que a movimentação fosse de milhares ou milhões, pode se aquietar.
Ah, sim, dirão que, mesmo sendo pouco, está configurada apropriação de dinheiro público (peculato) ou o possível pagamento de propina de empresa privada com interesses no governo (corrupção)
Mas quem seria o envolvido no peculato e na corrupção passiva? O ajudante de ordens que fazia tudo por Bolsonaro?
Mauro Cid vai encarar mais essa, já que Michelle seria apenas beneficiária e certamente vai dizer que não sabia de nada? Como não sabia dos cheques do Queiroz.
Bolsonaro também dirá a mesma coisa nesse caso, como repetirá hoje, no depoimento na Polícia Federal, que não sabe nada da história da fraude no registro da vacina que ele diz não ter tomado.
Mauro Cid é o cara que tenta recuperar as joias presas na alfândega. É quem conversa com militares que tentam articular o golpe e é também quem operava o dinheirinho para Michelle.
É o candidato a maior coitado dos esquemas criminosos montados por Bolsonaro, se não optar pela delação que pode salvar sua carreira militar, se é que ainda pode ser salva.
Sim, tem também a história dos saques em dinheiro vivo de R$ 644 mil em quatro anos, da conta da presidência, que também apareceu agora. É outro departamento, sem relação com as operações para Michelle. E Bolsonaro vai dizer que nada sabia também dos R$ 644 mil.
Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes
Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link