Onde está a gritaria das associações de médicos contra a “máfia das próteses”?

Atualizado em 6 de janeiro de 2015 às 12:24

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Onde estão as declarações indignadas das entidades médicas contra a chamada “máfia das próteses”? Onde os protestos veementes da categoria? Onde metade daquele povo que foi aos aeroportos agredir os cubanos, denunciar a invasão comunista, o trabalho escravo e a roubalheira?

O Fantástico fez uma reportagem denunciando um esquema em que fabricantes de próteses pagavam comissões para profissionais de saúde prescreverem seus produtos. O negócio estaria ocorrendo em cinco estados.

Alguns ganhavam 100 mil reais por mês pelo serviço. Funcionava assim: o paciente — ou melhor, cliente –, depois de esperar pela cirurgia na fila da rede pública, ia para uma consulta, onde o médico indicava um advogado. Ele ajudava a pessoa a entrar na Justiça pedindo uma liminar que obrigava o governo a pagar pelo procedimento.

O Cade vai averiguar a existência de um cartel dos fabricantes. Segundo o Tribunal de Contas da União, os gastos com medicamentos e insumos para cumprimento de decisões judiciais passaram de 2,5 milhões reais em 2005 para 266 milhões em 2011.

Ou seja, a história é antiga. De acordo com a Zero Hora, quatro casos estão há um ano sob investigação do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers). Os processos, diz o jornal, “ocorrem sob sigilo e estão em fase de julgamento”.

Um dos nomes envolvidos na bandalheira é o do ortopedista Fernando Sanchis. Entre outras coisas, Sanchis estaria metido num pedido de liminar para que um plano bancasse uma cirurgia de coluna de um homem em Pelotas. O advogado indicado por Sanchis entrou com o pedido, orçado em 110 mil reais. A liminar foi suspensa e a operação foi realizado por pouco mais de 9 mil.

Sanchis é um combatente ativo contra o programa Mais Médicos. Nas redes sociais — e também para seus clientes, é claro –, gritava contra a corrupção, o socialismo e postava estranhas fotos de execuções policiais. Criou um cartão como uma espécie de resposta para as caixinhas de Natal: “Você votou na Dilma porque ela disse que o Brasil estava maravilhoso e é pra mim que você vem pedir doação ou gorjeta? Vá pedir para a Dilma”, lê-se.

Distribuidores e dirigentes de hospitais estão sendo investigados. Na terça, o presidente da Associação Médica Brasileira soltou uma nota: “Condenamos relação comercial entre médicos e indústria que influenciem condutas, assim como levantem suspeitas sobre a atividade médica. A confiança no médico é fundamental para pacientes. Incentivamos segunda opinião, especialmente em casos mais complexos.”

Se os conselhos e entidades de classe empregarem um milésimo da energia que gastaram contra o “bolivarianismo” para tentar apurar essa sujeira, já será um avanço. Mas eu aposto com você que, no que depender dos médicos, há assuntos mais importantes a tratar.