A indignação com o racismo só aplaca um pouco nossas culpas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 27 de maio de 2023 às 8:02
Vinicius Jr. durante os ataques racistas sofrido no último domingo (21). Foto: reprodução

Policiais matam negros e pobres todos os dias no Rio e no mundo todo, e os casos de maior repercussão, porque foram filmados, são exibidos na TV e na internet.

Mas os policiais continuam matando e alguém continua filmando. Assim como os racistas que andam pelas ruas continuam atacando negros no mundo todo.

Só os casos que envolvem gente famosa acabam provocando reações de indignação que duram uma semana. Nos outros, nos casos invisíveis, não duram nada, porque a indignação nem se manifesta.

Nesse momento, em algum lugar, negros estão sendo ofendidos ou atacados ou mortos pela ação de supremacistas e até de policiais negros.

A reação contra os ataques a Vinicius Júnior, que mobilizaram gente de todas as áreas em todo o mundo, vão durar o tempo das indignações.

E uma indignação que renda exposição hoje em dia pode durar apenas algumas semanas, até o próximo ataque, que vai gerar novas indignações.

E assim o mundo vai vivendo de indignados, o que não significa nada. Significa apenas que as pessoas confiam na capacidade de se indignarem para que assim produzam sensações de consolo.

Um indignado contra o racismo pode ser útil para produzir ações concretas das instituições, para que os racistas sejam contidos e punidos.

Mas a indignação sozinha não tem força alguma para mudar a realidade. Indignar-se pode significar apenas que ainda nos comovemos com os dramas alheios. E só.

Tudo o que se promete fazer agora, a partir do caso de Vinicius Júnior, pode produzir efeito zero, porque sempre foi assim.

O racismo no futebol convive com dirigentes e técnicos adoradores de racistas. Com dirigentes, técnicos e jogadores que adoram adoradores de torturadores.

Torcedor espanhol sendo preso após ataques racistas contra Vini Jr. foto: Reprodução

O racista é o mesmo fascista homófobo que também odeia índios e disfarça seu ódio pelos pobres, mesmo que muitos deles sejam de famílias pobres.

Alguns até se dizem indignados com o racismo, porque é o que deve ser considerado normal e protege imagens. Os adoradores de adoradores de fascistas ajudam a nos confundir.

E assim vamos indo em direção ao nada, como diz o técnico Pep Guardiola, pessimista com o que pode acontecer depois do caso Vini. A Espanha continuará a mesma, diz Pep.

O Brasil continuará o mesmo. As instituições não desafiam o poder supremacista dos brancos do futebol, dos seus patrocinadores de extrema direita, das grandes grifes e das torcidas que precisam lotar os estádios com a ajuda dos racistas.

O combate ao racismo é ocasional e até oportunista, porque desafoga nossas culpas.

Homófobos, racistas, xenófobos e todos os impunes por atitudes e ações violentas só ganham uma vitrine maior no futebol.

Em todo o resto, que é o mundo que nem todo mundo vê, eles agem quase à vontade e sem medo. Não vai dar nada não é uma frase, é a realidade.

Texto originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link