Desde o começo do século XXI o Brasil registrou 108 casos de abusos de religiosos da Igreja Católica contra menores. Desses, em 60 houve algum tipo de condenação na justiça, com a pena média sendo de 12,4 anos de prisão e já foi pedido mais de R$ 150 milhões à título de indenização pelas famílias das vítimas, tendo sido pagos até 2023 pouco menos de R$ 1 milhão. Em sua maioria, os crimes registrados foram os de “atentado violento ao pudor” ou “estupro de vulneráveis”.
Nos últimos 20 anos, a Igreja Católica tem enfrentado uma série de escândalos relacionados aos abusos sexuais cometidos por membros do clero contra crianças e adolescentes. Após o impacto causado pelo terremoto na Arquidiocese de Boston, nos Estados Unidos, devido às reportagens da equipe do Spotlight, do jornal “The Boston Globe”, que denunciaram não apenas os abusos perpetrados por religiosos, mas também o encobrimento dos crimes pela Igreja, casos de décadas de pedofilia envolvendo padres vieram à tona em um país após o outro. No entanto, um país em particular permaneceu em silêncio, encobrindo grande parte das histórias de abuso cometidas pela fé: o Brasil, o maior país católico do mundo. Com informações de O Globo.
Ao contrário do resto do mundo, as notícias sobre vítimas brasileiras surgiram de forma esparsa. Enquanto isso, nos últimos anos, países como Alemanha, Argentina, Austrália, Chile, México, Espanha, Irlanda, Portugal, Itália, França e Canadá tiveram sacerdotes expostos por abusar de menores, em relatórios produzidos por jornalistas, comissões independentes e até mesmo a pedido da própria Igreja.
“Quando você pensa que já viu de tudo, no dia seguinte é surpreendido. A perversidade é infinita”, afirma Roberto Tardelli, advogado e ex-promotor de Justiça que representou vítimas de abusos sexuais na Diocese de Limeira, pelo padre Pedro Leandro Ricardo, que foi condenado em maio do ano passado a 21 anos de prisão por atentado violento ao pudor.
O livro “Pedofilia na Igreja – um dossiê inédito sobre casos de abusos envolvendo padres católicos no Brasil” (Máquina de Livros, 2023) reúne, pela primeira vez, os crimes sexuais cometidos por religiosos contra menores de idade no país. Após três anos de trabalho, foram compilados casos envolvendo 108 sacerdotes acusados de abusar de pelo menos 148 crianças e adolescentes. Dentre eles, 60 foram condenados.
Os abusos descritos no livro revelam a prática criminosa de sacerdotes pertencentes a 80 dioceses e arquidioceses, abrangendo 23 estados e o Distrito Federal. Entre os acusados, encontram-se padres, monsenhores, bispos, arcebispos e até mesmo uma freira. Os abusos foram cometidos tanto por padres diocesanos – aqueles que não pertencem a uma ordem religiosa – quanto por frades franciscanos, salesianos, beneditinos, jesuítas, entre outros.