Viram essa charge? pic.twitter.com/VFxWwcbD9J
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) May 30, 2023
Deltan Dallagnol deu um passeio nos jornalistas do Roda Viva nesta segunda-feira, dia 29.
Falou sem parar, naquele tom de superioridade moral que lhe é peculiar, inventando à vontade, tergiversando, desfiando números imaginários, eventualmente aos berros — tudo em velocidade alterada.
A moderadora Vera Magalhães agiu como a tia do deputado cassado, passando-lhe reprimendas carinhosas eventuais, e dando-lhe aqui e ali gentis palmadas no bumbum rosado. Ao final, ganhou uma charge simpática com um ataque a Alexandre de Moraes e a exibiu em suas redes como um troféu.
Agressivo, ele desafiou a bancada, a alturas tantas, a citar uma prisão preventiva “injusta” feita pela Lava Jato.
Ninguém foi capaz de responder uma banalidade dessas. Para ficar apenas num caso, houve o do então diretor financeiro da empreiteira OAS, Mateus Coutinho de Sá, retirado de sua casa aos 36 anos em 2014 por policiais federais e levado para a prisão em Curitiba (PR).
Foi torturado pela ausência da filha pequena. Penou com uma depressão profunda. Condenado por Sergio Moro por corrupção, lavagem de dinheiro e pertencer a uma organização criminosa, Coutinho foi absolvido por unanimidade pelos desembargadores da 8ª Turma do TRF-4. Saiu dois anos depois, destruído.
Questionado por Bernardo Mello Franco sobre seu apoio a Bolsonaro e à extrema-direita, Dallagnol entrou num looping sobre Lula, mentindo sobre a regulação da mídia e fazendo outras ilações descabidas — de novo, sem ser incomodado.
Para se defender do processo de cassação, mencionou artigo do velho amigo Merval Pereira e editoriais do Globo, Estadão e Folha.
A defesa do Deltan Dallagnol é baseada em Merval Pereira e editoriais de jornais… #RodaViva pic.twitter.com/4xTMnpDBzF
— Glauber Macario (@glaubermacario) May 30, 2023
Nessa amnésia geral, ninguém se recordou da frieza canalha do convidado diante da morte do reitor da UFSC, Cancellier, levado ao suicídio pela delegada Érika Marena, chapa de Deltan.
O editor do Intercept não conseguiu lançar mão de nenhuma das matérias da Vaza Jato. Seu melhor momento foi quando quis saber do cristão Dallagnol como era apoiar o que Bolsonaro fez na pandemia. “Não sou gestor público”, rebateu o sujeito.
O ápice do amadorismo foi a pergunta pueril de uma jornalista da Folha sobre um possível arrependimento por entrar na política. Minha mulher cantou a bola: ele vai falar que a única maneira de combater o “sistema” era por dentro do “sistema”. Batata.
Fez piadinha sobre o fato de estar pilhado. “Meu combustível é a indignação com a injustiça”, disse. Palmas pra ele!
Deltan Dallagnol sempre será amigo de jornalistas da mídia hereditária porque eles têm um ancestral comum: o antipetismo. Estará em casa, no final das contas. Por mais desembestado, tia Vera lhe dá um colinho.