Chegou a mim o vídeo em que a jornalista Cecília Malan entra em pânico, ao vivo, na cobertura de um dos atentados de Paris.
O vídeo viralizou nas redes sociais, e fui observar os comentários. Um deles era de uma internauta italiana, que se divertiu com a cena bizarra e a compartilhou.
Pelo lado bom, isso quer dizer que Cecília e a Globo se tornaram notícia mundial.
Mas o comentário que resumiu tudo, em minha opinião, foi outro. “Sem noção a Globo.”
Clap, clap, clap. Palmas. De pé.
Cecília não tem culpa de nada. A responsabilidade toda é de quem a colocou numa missão para a qual ela estava evidentemente despreparada.
Escolher a pessoa adequada para cada tarefa é um dos fundamentos do jornalismo. Mas a Globo não é tão boa assim em fundamentos.
Cecília tem todos os atributos para não cobrir um caso tão dramático quanto aquele.
É jovem, inexperiente e foi criada num ambiente altamente protegido, como filha de Pedro Malan, homem forte da economia sob FHC.
Até ser obrigada a ouvir tiros, a a eles reagir vexatoriamente, ela fazia coisas na Globo como entrevistar os garotos do One Direction e Adele.
Estava estacionada em Londres, para onde foi devolvida agora. No Twitter, ela anunciou seus próximos trabalhos londrinos. Vai entrevistar Colin Forth e outros atores, e pediu perguntas a seus seguidores.
Esta é Cecília Malan.
De quem foi a ideia de colocá-la em Paris?
Aparentemente, não é uma questão que preocupe o comando jornalístico da Globo.
Foi postada nas redes sociais, hoje, uma carta que o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, enviou à Folha.
Um repórter da Folha deu, ontem, que Cecília tinha sido tirada da cobertura dos desdobramentos dos tumultos em Paris.
Kamel disse, em sua carta ao jornal, que ela não fora afastada. E concluiu dizendo que Cecília merecia “aplausos e não insinuações”.
É uma afirmação, para voltar ao comentário já citado de um internauta, completamente sem noção.
Ali Kamel tem duas compulsões: processar blogueiros e escrever cartas para jornais para desmentir, ou tentar fazê-lo, notícias desagradáveis.
É um hábito que ele, aparentemente, herdou de outro diretor de jornalismo da TV Globo, Evandro Carlos de Andrade, já morto.
Quando eu dirigia a Exame, demos uma matéria que criticava o critério de notícia da TV Globo. Um campeonato mundial de clubes não estava sendo coberto pela Globo porque não era ela que o transmitia.
Era um fato, não uma opinião, e ainda assim chegou uma carta de Evandro a mim sobre o texto que déramos.
Mais tarde, quando trabalhei na Globo, me contaram que era uma mania dele: não deixar nada sem resposta. Nem o irrespondível.
Kamel talvez devesse prestar mais atenção na audiência do Jornal Nacional no que em pequenas notícias sobre a Globo.
Sob sua gestão, a audiência do jornalismo da Globo desaba, desaba e ainda desaba. Não que seja inteiramente culpa dele, é verdade: ainda que se tratasse de um jornalista brilhante, a internet é um competidor forte demais para a tevê e qualquer outra mídia.
Ainda assim, você pode pelo menos mitigar a queda de público.
Mas não é escalando novatos como Cecília Malan para jornadas altamente desafiadoras e nem escrevendo cartas para jornais.