O médico bolsonarista, atirador, colecionador de armas (CAC) e empresário Antonio Ferreira Dourado Neto, conhecido como Dr. Neto Dourado, foi condenado no dia 19 do mês passado a um ano e quatro meses de prisão por ter sido preso em flagrante delito no dia 3 de outubro do ano passado. Ele é ex-marido da influenciadora Lara Nesteruk, que o acusa de ter mantido caso com 13 prostitutas enquanto eram casados e de ter lesado seu patrimônio, por meio de desvio de dinheiro de uma clínica que manteriam em sociedade.
Na ocasião de sua prisão, ele estava portando uma pistola em seu veículo enquanto trafegava pela zona norte de São Paulo, utilizando uma sirene e um giroflex luminoso da Polícia Militar para se locomover mais rapidamente no trânsito da cidade. Policiais militares suspeitaram do carro utilizando o giroflex e abordaram o suspeito.
Os guardas constaram que se tratava de uso ilegal de aquipamento das forças de seguranças. Inicialmente, o médico mentiu que era policial – ele seria um médico da Polícia Militar -, mas depois confessou que não era.
Ao revistarem o carro, encontraram uma pistola e nove munições no interior do veículo, o que era ilegal, visto tratar-se de período eleitoral (dia 3 de outubro, menos de 24 horas após as eleições de primeiro turno), ainda que o médico tenha apresentado seu registro de atirador esportivo e colecionador de armas (CAC), devidamente legalizado e emitido durante o governo de Jair Bolsonaro (PL-RJ). Assim, Neto Dourado foi preso em flagrante.
Posterioremente, o médico teve sua prisão relaxada e passou a aguardar o julgamento em liberdade. Ao longo da instrução processual, alegou que estava se dirigindo, quando foi preso, a um batalhão da Polícia Militar, onde seria instrutor em um curso de primeiros socorros.
Disse que não sabia que não poderia estar com a arma dentro do carro naquele dia, pois não tinha especial interesse em acompanhar a legislação eleitoral.
Afirmou que estava com a pistola no carro porque poderia seguir, depois, a um estande de tiro, já que era apreciador do tiro esportivo, e que armas são para proteger famílias.
De fato, como se nota nas publicações do médico bolsonarista em suas redes sociais, é comum que Neto Dourado associe armas com família, ele acredita que “não é sobre armas, é sobre liberdade“. Neste vídeo, pode se ver Neto Dourado e sua então esposa, a influenciadora Lara Nesteruk, treinando em um estande de tiro.
Já sobre o uso ilegal do giroflex, não teve muito o que falar: confessou o crime, por inegável.
No dia 19 de abril deste ano, foi proferida a sentença condenatória do médico atirador. O juiz Carlos Eduardo Lora Franco, da 3ª Vara Criminal do Foro Central da Barra Funda, condenou o Dr. Dourado Neto a um ano e quatro meses de reclusão em regime inicial semiaberto, o que imediatamente substituiu por uma mena de prestação de serviços à comunidade, contra a qual o réu já está apelando, junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo.
Ainda na sentença, o magistrado fez questão de deixar clara a sua indignação contra o caráter egoísta da conduta do condenado, que mesmo sendo médico, fez uso leviano da sirene e do giroflex, equipamentos utilizados “para salvar vidas”. Os destaques foram inseridos pela reportagem do DCM.
“Se os demais condutores passam a perceber que muitas pessoas comuns estão instalando e usando esses dispositivos em seus veículos, naturalmente, quando virem um carro com sinais assim acesos, presumirão ser mais um motorista “espertinho”, e deixarão de dar passagem nesta situação.
E chega a chocar que especialmente um médico, pessoa como o próprio réu disse, que faz o juramento de proteger a vida, não tenha nenhum pudor em usar indevidamente, e banalizar, retirando sua credibilidade, justamente de sinais que são utilizados quando está em risco a vida humana!”
O médico agora recorre em liberdade. Sua pistola foi apreendida, o só foi possível em virtude do Decreto Presidencial 11.366/23, publicado no primeiro dia (01 de janeiro) do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A citada norma determina que sejam apreendidas as armas de colecionadores que respondam a inquérito policial ou tenham condenação em qualquer instância.