Em entrevista ao Estadão, o secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, afirmou que é um “tiro de curto prazo” o programa de incentivo à compra de carros. Ele ainda tentou dissociar o programa de incentivo à redução de preços da marca de “carro popular”. “A gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro”:
O que a política do carro popular tem a ver com a ‘neoindustrialização’ citada pelo presidente Lula e pelo vice, Geraldo Alckmin?
Primeiro ponto: a gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro. Eu nunca discuti isso no MDIC. A gente tem um programa aqui que é o Rota 2030, que nós discutimos as rotas tecnológicas que promovam um processo de descarbonização. Ele entra na sua segunda fase a partir de agosto e, do ponto de vista do setor automotivo, era isso que nós discutimos. Só que, ao mesmo tempo, a gente está atento à conjuntura, ao que está acontecendo com o setor, que tem uma capacidade produtiva de 4,5 milhões de automóveis e que está no nível de utilização da capacidade instalada nos mais baixos que já se viu, em torno de 49%.
E por que isso preocupa?
A gente precisa pensar no setor automotivo não isoladamente, mas em todo o sistema. No setor de peças, componentes eletroeletrônicos, vidro, plástico, e também nas concessionárias, nos postos de combustíveis, peças de reposições. Quando eu englobo isso, o setor automotivo diretamente emprega 101,6 mil pessoas e indiretamente, considerando toda a cadeia, 1,2 milhão de pessoas. Se essa conjuntura permanecer desfavorável, em um maior nível de paralisação das empresas, isso tenderia a demitir mais pessoas, aumentar a taxa de desemprego, impactando inclusive as receitas, porque aí você tem contração do PIB que vai impactar perda de arrecadação. O presidente Lula manifestou publicamente preocupação e pediu para o vice-presidente apresentar uma proposta conjuntural que estimulasse o setor. Se você paralisa tudo, quanto desemprego isso vai gerar?
E por que incluíram carros de R$ 120 mil?
Se considerássemos apenas os carros 1.0, eles ocupariam apenas 10% do mercado. Então, com carros de até R$ 120 mil, ocupamos quase 40% do mercado e, portanto, uma política de caráter conjuntural teria um impacto maior para manter emprego e renda. Só que, ao mesmo tempo, não poderíamos dar o mesmo incentivo tributário para um carro de R$ 120 mil e outro de R$ 68 mil, já que a gente estava incorporando as três dimensões. Por isso, escalona, e os carros que alcancem maior nível nos três fatores — social, coeficiente energético e densidade produtiva — terão o maior nível de incentivo tributário. E os com menores patamares alcançam o menor nível de incentivo tributário. Isso dá um número de 33 modelos de carros de 11 empresas, que representam quase 40% do mercado. (…)