O empresário de Curitiba e ex-deputado estadual Antônio Celso Garcia, mais conhecido como Tony Garcia, de 70 anos, alega ter sido forçado a gravar ilegalmente pessoas a pedido de procuradores e do ex-juiz federal Sergio Moro após firmar um acordo de colaboração premiada em 2004.
“Eu fui um agente infiltrado deles”, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo na sexta-feira (2). O caso foi revelado pela revista Veja.
De acordo com Garcia, as supostas atividades ilegais foram relatadas à juíza federal Gabriela Hardt em 2021. Em novembro de 2022, a magistrada rescindiu o antigo acordo de delação a pedido do Ministério Público Federal (MPF), em um pedido feito em 2018. A defesa do empresário está atualmente recorrendo da decisão.
Garcia afirma que, apesar de ter apontado as atividades ilegais das autoridades envolvidas em sua delação, a juíza não tomou medidas apropriadas.
Segundo ele, seu relato foi feito durante uma audiência em 2021 e o conteúdo só foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em abril deste ano, por decisão do juiz Eduardo Appio, que foi afastado de suas funções em 22 de maio sob suspeita de infração disciplinar.
Garcia diz que prestou depoimento à juíza para detalhar sua atuação como colaborador, “para que ela pudesse ter uma avaliação antes de tomar uma decisão tão drástica”, referindo-se ao pedido de rescisão feito pelo MPF.
“Nessa audiência, eu surpreendi até meus advogados, que não sabiam de nada, e relatei tudo o que fui obrigado a fazer. Fui um agente infiltrado [de Moro e dos procuradores]”, disse ele, referindo-se ao período posterior ao acordo de delação, entre 2005 e 2006.
“Eles [os procuradores] me obrigaram a carregar dois telefones deles com microfones abertos. Foi assim que eu gravei o [advogado] Roberto Bertholdo e muitas outras pessoas, para eles. Quando eles encontravam conversas de interesse, levavam ao Moro e ele dava legitimidade a essas conversas. Ele agia como se tivesse autorização judicial, retroativamente.”
Garcia afirma que possui provas que corroboram suas declarações e que pretende apresentá-las ao STF.
O ex-juiz Sergio Moro, atualmente senador pelo partido União Brasil, emitiu uma nota afirmando que as declarações do empresário são “mentirosas e dissociadas da realidade, sem qualquer respaldo em evidências”.
Gabriela Hardt, por meio de sua assessoria, informou que não vai comentar sobre o assunto. De acordo com a Justiça Federal, o processo está sob sigilo.
Na segunda-feira (5), Hardt apresentou uma queixa-crime contra Tony Garcia por crime contra a honra e, por esse motivo, também se declarou suspeita para julgar todos os processos em que ele esteja envolvido.
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