Ninguém deve deixar de receber um tratamento por causa de sua conta bancária. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 9 de junho de 2023 às 18:04
Foto: Divulgação/Ministério da Saúde

Os planos de saúde lucraram como nunca durante a pandemia. Em 2020, o lucro líquido aumentou mais de 70%. Óbvio: muita gente não saia de casa, isto é, menos acidentes, menos doenças contagiosas. E todas as consultas de rotina e procedimentos eletivos cancelados.

E as mensalidades sendo reajustadas. Com o medo da Covid, quem podia continuava pagando.

Agora que a situação voltou ao normal, os planos reclamam que os lucros estão caindo. Querem impor reajustes abusivos. E proliferam denúncias de cancelamento unilateral de planos de usuários indesejados, porque custosos: pacientes de câncer, crianças com deficiência.

Nos jornais, os defensores da saúde privada, chamada eufemisticamente de “complementar”, dizem que ela é importante para desafogar o SUS. Uma mentira. Na hora do aperto, é o SUS que socorre os usuários dos planos de saúde – que se recusam a sequer ressarcir o Estado, como determina a lei.

Hospital. Foto: Reprodução

A saúde pública é a política que encarna o fundamento moral da democracia: cada pessoa vale tanto quanto qualquer outra. Toda vida é igualmente merecedora de respeito.

A exploração da medicina por empresas com ânimo de lucro tem, assim, algo de moralmente repugnante. E se a big farma pode se escorar no argumento da pesquisa e da inovação (que é em grande parte mentiroso, mas vá lá), os hospitais privados não têm alternativa se não assumir que ganham com a desigualdade social.

Nós nos acostumamos com a medicina privada. Trabalhadores sindicalizados colocam “plano de saúde” na sua pauta de reivindicações. É natural: vivemos na sociedade tal como ela está organizada e ninguém quer ser mártir.

Mas o projeto de uma nação justa passa pela prioridade total à saúde pública – na direção do fortalecimento do SUS, da abolição dos incentivos fiscais aos planos privados, da estatização do sistema hospitalar.

Ninguém deve receber ou deixar de receber um tratamento por causa de sua conta bancária. Simples assim.

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