PPK da Claudia: para a Gillette, depilação feminina é para agradar macho. Por Nathalí

Atualizado em 22 de junho de 2023 às 16:20
PPK da Claudia em nova campanha da Gillette. Foto: Reprodução

A nova campanha de marketing da Gillette Vênus tem como embaixadora uma personagem fictícia chamada “ppk da Cláudia”.

Desenvolvida – pasmem – majoritariamente por mulheres, a campanha tem a intenção de falar sobre depilação íntima de forma “despojada”.

Fica só na intenção, mesmo.

Uma vagina com olhos e boca pra convencer as mulheres de que precisam se depilar – cafonérrimo em pleno século XXI – é tudo, menos despojado.

A campanha conta com peças como “dia dos namorados chegando: eu me depilo pra isso”.

Enquanto as campanhas de aparelhos direcionados para homens estão focadas no conforto masculino, a breguíssima ppk da Cláudia (Ohana? antes fosse) tenta nos convencer de que depilação íntima é uma questão de agradar macho – mas não é?

A polêmica da depilação íntima feminina é tão antiga que já nem é uma polêmica. Já foi tratada como questão de higiene, beleza, e agora reduzida pela Gillette Vênus a uma questão sexual, em pleno 2023.

Não, Gillette, eu não me depilo pra isso. Posso me depilar se eu estiver a fim – e não me depilar se eu não estiver.

Por que a Gillette Brasil, direcionada pra homens, não faz campanha pra que eles depilem o saco no dia 12 de junho ou em qualquer dia do calendário? Por que para os homens “conforto e higiene” e para as mulheres “bata sua gillette no boxe pra agradar macho?”

Não é mais tempo de falar que depilação íntima não tem nada a ver com higiene ou saúde – aliás, os pelos pubianos protegem qualquer ppk, até a da Cláudia, que muito provavelmente não sabe disso.

Como uma marca de aparelho de barbear feminino contrata uma equipe majoritariamente feminina e ainda consegue ser extremamente antiquada e machista?

A verdade é que pouco importa o gênero das marqueteiras: a ideia de que a depilação íntima feminina deve ser uma imposição por ser “preferência nacional” (dos homens) é cultural e estrutural, como todos os outros tabus sustentados pelo machismo.

Além de cafona, essa campanha traz outro desacerto: é ilógica e burra.

Um produto desenvolvido para mulheres deve, no mínimo, prometer conforto e comodidade ao seu público, e não uma chance de agradar aos homens.

Se a Gillette supõe que a nossa única preocupação é agradar macho que gosta de vagina lisinha (porque não parece uma de mulher adulta), nós deveríamos supor que este não é um produto digno sequer da nossa atenção.

Não vou militar pelas vaginas peludas no topo, mesmo porque até isso já é meio 2016: mas prestemos atenção em que tipo de premissas são usadas nas campanhas de marketing das marcas que consumimos.

Uma marca cuja premissa é que as mulheres querem – e devem – se depilar pra agradar homem, sem nem se dar ao trabalho de tentar nos enganar dizendo que é uma “questão de saúde”, definitivamente não merece o meu dinheiro.

Veja o vídeo da propaganda:

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