Após a eleição mais polarizada da História, o Partido dos Trabalhadores (PT) contratou pesquisadores para decifrar o intenso ataque que vem recebendo da extrema-direita nos últimos anos e começou a capacitar seus membros para uma contraofensiva na internet. O intuito é lidar com o grande fluxo de ataques, desinformação e teorias da conspiração que o partido vem enfrentando.
Com ênfase nas regiões Sul e Sudeste, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro teve um desempenho eleitoral superior, o PT tem realizado seminários para educar seus militantes sobre a origem das fake news direcionadas à esquerda, os principais propagadores bolsonaristas desse conteúdo e estratégias para os membros do partido refutarem essas narrativas. O conteúdo dos seminários se baseia em estudos realizados pelos pesquisadores Fernanda Sarkis e Marcus Nogueira.
Os primeiros eventos foram realizados em Brasília, em abril, e em Porto Alegre, no início deste mês. Florianópolis provavelmente sediará o próximo encontro, onde os líderes serão instruídos a combater os propagadores locais de notícias negativas.
Em uma apresentação de 44 slides, os pesquisadores traçaram um panorama das principais correntes de desinformação contra o PT, os comunicadores bolsonaristas e alguns financiadores de think tanks ultraconservadores. Figuras como Eduardo Bolsonaro, Damares Alves, Bia Kicis, Nikolas Ferreira, Ricardo Salles, Gustavo Gayer e Sergio Moro são destacadas como representantes proeminentes da “nova direita”, que contribui para amplificar os ataques.
Fernanda Sarkis e Nogueira também forneceram um relatório para auxiliar a liderança do partido a compreender a corrente de desinformação bolsonarista contra a esquerda.
O estudo identificou os 12 temas principais usados pelos bolsonaristas contra a esquerda, um discurso que se alinha com o extremismo em outros países. A retórica está conectada a uma rede global de desinformação, existente em países como Estados Unidos, Portugal e Espanha.
Segundo o estudo, esses grupos de extrema-direita geralmente tentam associar os opositores a temas como corrupção, ideologia de gênero, aborto, drogas, comunismo, impunidade (sob a premissa de que “direitos humanos é defesa de criminosos”), perseguição religiosa, violência, doutrinação na escola, regulação da mídia, invasão de propriedade e destruição da família.
Os membros do PT estão preocupados de que essas publicações negativas possam prejudicar a reputação do partido, assim como aconteceu com o tema da corrupção nas últimas duas décadas, após os escândalos do mensalão e da Lava-Jato.