Arthur Lira vai aguentar? Por Moisés Mendes

Atualizado em 26 de junho de 2023 às 11:50
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. (Foto: Reprodução)

Diziam que Eduardo Cunha tinha na mão pelo menos 80 deputados. Gente que ele achava que manobrava como queria, por ascendência como líder de fatia dos subterrâneos da direita, por favores financeiros nas campanhas e porque muitos desses 80 tinham o rabo preso, ou tudo isso combinado.

Pois Cunha chefiou na Câmara as manobras do golpismo, em 17 de abril de 2016 a Câmara abriu o processo de impeachment que afastava Dilma Rousseff do governo, logo depois Cunha foi afastado da presidência da casa por ordem do Supremo, em 31 de agosto Dilma foi derrubada e no dia 12 setembro a Câmara cassou Cunha.

Cunha, o poderoso, caiu de podre com 450 votos a favor da cassação, 10 contra e nove abstenções. Mas como, se era poderoso?

Eduardo Cunha. (Foto: Reprodução)

Como o deputado que controlava parte da Câmara só teve 19 deputados tentando evitar o fim da sua carreira? Porque Cunha foi abandonado?

Porque não servia para mais nada e, a partir dali, seria apenas um estorvo.

E quem se lembra por que ele perdeu o mandato por quebra de decoro parlamentar?

Esse foi o motivo: o Conselho de Ética e Decoro decidiu que ele havia mentido em depoimento à CPI da Petrobras, em 2015, ao dizer que não tinha conta no Exterior. Tinha e não havia declarado a conta à Receita.

Cunha caiu por ser mentiroso. Foi o pretexto. Agora, perguntam sobre Arthur Lira: é provável que um presidente da Câmara tão poderoso siga o mesmo caminho do antigamente poderoso Eduardo Cunha?

Talvez não, é o que dizem, porque Lira ainda tem muita utilidade (o mandato de presidente acaba em fevereiro de 2025), tem a gestão absoluta das demandas do centrão, vem negociando o morde e assopra contra o governo diretamente com Lula e não é tão imbecil quanto Cunha.

Será mesmo? Será que Lira vai sobreviver às descobertas diárias sobre o envolvimento de assessores com a corrupção dos kits de robótica?

A Polícia Federal enviou ao Supremo a investigação sobre os desvios com os kits porque há papéis com citações a Arthur Lira. Uma lista de pagamentos do esquema tem o nome de um certo “Arthur”.

O documento foi apreendido com Luciano Cavalcante, auxiliar próximo dele. Teriam sido pagos a Arthur R$ 650 mil de dezembro de 2022 a março de 2023.

Seria um outro Arthur? O Arthur de uma távola quadrada sem relação nenhuma com o rei Arthur das Alagoas?

E surge agora a nova denúncia do Estadão de que Lira tem pelo menos 10 familiares e aliados em cargos importantes na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).

Teremos uma semana dura para Lira e para Bolsonaro, cuja ação no TSE deve ter um desfecho nos próximos dias.

Lira, Bolsonaro, Sergio Moro. A fila que já engoliu Deltan Dallagnol precisa andar. O poderoso de hoje pode ser um mero Dallagnol amanhã.

Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes

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