Duas semanas depois de publicar um post em que ridicularizava os pobres e suas relações com a saúde, a blogueira do Globo Sílvia Pilz voltou a ser criticada por causa do texto “Preto no branco”. Publicado em julho do ano passado e desenterrado no vácuo do texto de janeiro, ela zomba de crianças com Síndrome de Down e diz que “todo mundo quer ser branco e ter olhos claros”.
Em entrevista à BBC Brasil sobre a polêmica de “O Plano cobre”, Pilz explicou que era uma sátira, “um texto tolo, corriqueiro, de humor” e se dizia divertida. Pode ter sido essa a intenção, mas a execução foi na direção oposta.
Diante da reação negativa, ela precisou colocar um aviso:
“Humor cáustico perde a graça quando precisa ser explicado. Falhei. Poucos se divertiram e muitos se ofenderam. A intenção não era essa. Leia o texto e deixe seu recado nos comentários.”
Sílvia parece mais uma trainee de Sheherazade do que alguém tentando divertir por meio da ironia. Pode ser que surja uma explanação para “Preto no Branco”. Caso isso aconteça, outra vez ela estará defendendo o indefensável.
Não há crítica à “ditadura do politicamente correto” que se sustente diante da afirmação de que “de cara, um anão assusta, assim como, de cara, crianças com Síndrome de Down também nos causam certo desconforto”. Ridicularizar crianças com Down é o fim. Ponto.
O humor pode ser escrachado, deve ser provocador, mas não pode deixar de lado a compaixão. “Quando não se sente compaixão pelo sofrimento alheio, quando o artista não tem a decência de se alinhar, ombro a ombro, com o sujeito de sua criação – quando isso acontece, não há esperança. E isso é especialmente importante para o humor”, escreveu o jornalista Marcelo Zorzanelli na revista Alfa há três anos.
Não conheço Sílvia Pilz e no seu blog não há indícios para afirmar que ela seja um ser desprovido de compaixão, mas para ela vale tudo no humor, conforme explicou à BBC.
O que as duas polêmicas explicitam é a falta de talento na hora de destilar sarcasmo e ironia. O primeiro parece conversa de dondocas decadentes zombando dos empregados e o segundo poderia ser assinado por neonazi simpatizante do apartheid. Provocação barata para causar.
Um texto de humor não é como um artigo acadêmico, cheio de notas de rodapé para auxiliar a compreensão. Deve ser entendido de primeira, assim como a piada contada aos amigos. Se explicar uma anedota é uma situação patética, o que dirá ter que explicar uma coluna escrita, pensada e revisada.
Sou péssimo contador de piadas. Evito contá-las para não correr o risco constrangedor de precisar explicá-las. Sílvia Pilz bem que poderia tomar a mesma atitude em relação a seu trabalho.
Silvia que me desculpe, mas ela vai entender: tripudiar sobre crianças com Down apenas para “causar” é coisa de uma débil mental. Com todo respeito.