Empresas ligadas ao agronegócio são proprietárias de pelo menos 54 caminhões enviados a Brasília para participar de manifestações antidemocráticas em novembro de 2022, logo após as eleições presidenciais. Essas empresas, juntas, possuem um faturamento anual de R$ 412,6 milhões, segundo o Metrópoles.
No total, foram identificados 272 caminhões que integraram comboios em direção a Brasília a partir de 4 de novembro. Desses, 93% estão registrados em apenas quatro estados: 136 no Mato Grosso, 46 na Bahia, 46 em Goiás e 26 no Paraná. Destaca-se a cidade de Sorriso (MT), com 72 caminhões, e Luis Eduardo Magalhães (BA), com 22 caminhões. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), então candidato à reeleição, venceu a disputa em todos esses locais.
De acordo com um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), enviado à CPI dos Atos Golpistas, 132 caminhões estão registrados em nome de pessoas jurídicas, o que indica o envolvimento de grupos empresariais no financiamento do acampamento em frente ao Quartel General.
Em 12 de novembro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou o bloqueio das contas bancárias ligadas à Sipal, empresa do agronegócio, por suspeita de financiamento das manifestações antidemocráticas. Os demais caminhões (140) estão registrados em nome de pessoas físicas, mas não pertencem a caminhoneiros autônomos. Muitos dos proprietários desses caminhões têm participação societária relevante em empresas de médio porte do setor agro.
Esses acontecimentos apresentam semelhanças com a mobilização ocorrida entre 6 e 10 de setembro de 2021, onde manifestantes pró-Bolsonaro reivindicavam intervenção militar e mais liberdade de atuação ao ex-presidente. A estratégia de utilizar caminhões e ônibus para furar barreiras policiais e estabelecer acampamentos na região das sedes foi adotada em ambas as ocasiões.
A Sipal, registrada em Paranaguá (PR), lidera o ranking de empresas que disponibilizaram veículos para os atos golpistas, com 10 no total. Na sequência, aparecem Vape Transportes, de Água Boa (MG), com 8, e Comércio e Transportes, de Rio Verde (GO), que enviou 7 caminhões em novembro de 2022.
O relatório também destaca que os caminhões utilizados nas manifestações de janeiro de 2023 eram mais novos, em média, do que os dos caminhoneiros autônomos, indicando o envolvimento de grupos empresariais no financiamento do acampamento em frente ao quartel do Exército.
Em média, os caminhões de motoristas autônomos têm de 18 anos de uso, no entanto, 65% dos veículos que participaram do comboio são novos ou seminovos, com modelos a partir de 2019. Apenas 18 dos 54 caminhões têm 18 anos ou mais.
A maioria dos veículos seguiu pela BR-163 (135) e BR-158, provenientes de Sorriso, Tapurah, Campo Novo do Parecis e Nova Mutum, todas no Mato Grosso. Em terceiro lugar, está a BR-060, por onde passaram os veículos vindos de Rio Verde e Jataí, ambas localizadas em Goiás.