Documentos da Polícia Federal mostram que bolsonaristas, como George Washington de Oliveira Sousa, preso por tentar plantar uma bomba perto do Aeroporto de Brasília na véspera do natal de 2022, foram à capital do Brasil em um movimento orquestrado dos chamados CACs, pessoas com posse de arma por se declararem Caçadores, Atiradores ou Colecionadores. Eles teriam combinados ataques antidemocráticos em caso de derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições, o que aconteceu.
Um mês após emitir o seu certificado de CAC, em novembro de 2021, George Washington foi de Xinguara (PA), onde mora, até Goiânia (GO), para comprar armas, em um percurso de quase 1,3 mil quilômetros. Após adquirir o armamento, o bolsonarista escreveu para um amigo: “Dá para começar uma guerra, hein”. E o seu colega respondeu: “Vamos precisar, viu? (…) Se roubarem a eleição do Bolsonaro, o Brasil vai entrar em uma guerra civil”. Este amigo é um pecuarista que responde por crimes ambientais no Pará.
Com George Washington, a polícia apreendeu um fuzil, duas espingardas, dois revólveres, três pistolas e mais de 3 mil cartuchos de diferentes calibres em sua caminhonete, sendo que tudo tinha registro em seu nome pelo Exército. Em depoimento após a prisão, ele contou que passaria o armamento “a outros CACs que estavam acampados no QG do Exército”, em Brasília, se o atentado fosse bem-sucedido.
No material que o jornal O Globo teve acesso, é possível entender como os CACs se armaram e se associaram para atacar a democracia brasileira após as eleições de 2022.
Documentos obtidos pelo GLOBO mostram como CACs se armaram e se associaram para golpear a democracia brasileira após as eleições de 2022. Informações obtidas por meio de mensagens de celular, depoimentos de testemunhas e relatórios policiais revelam que esse grupo armado planejou ataques, participou de bloqueios em rodovias, abriu fogo contra policiais e esteve presente entre os manifestantes detidos em Brasília após os ataques golpistas ocorridos na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro.
No estado de Rondônia, indivíduos credenciados como CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores) armados realizaram bloqueios em uma rodovia importante e forçaram o fechamento de estabelecimentos comerciais após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições. Testemunhas relataram ao Ministério Público que, nas semanas seguintes ao pleito, Omar Roberto Sadeg, Alexandro Rosa de Miranda, Silvestre Silva Werling e Ronivon Dias Borges – todos certificados como atiradores esportivos pelo Exército e residentes em Colorado do Oeste, região Sul do estado – se uniram para proibir o tráfego de veículos na BR-435, a principal rota para a produção agrícola da região.
O promotor Anderson Batista, responsável pela investigação, conta que conseguiram “comprovar que houve emprego de armas de fogo ilegalmente nos bloqueios, tanto na cintura quanto guardadas em carros prontas para uso. Esses atos, liderados por esse grupo de atiradores, causaram uma crise de desabastecimento e prejudicaram muito a população local, já que nem ônibus que levavam alunos para a escola e ambulâncias com pacientes podiam passar”.
Uma operação realizada contra o grupo, em dezembro de 2022, apreendeu 11 armas de fogo registradas no Exército pertencentes aos CACs identificados. Em junho, todos eles foram condenados a penas de até cinco anos de prisão devido à participação em bloqueios ilegais. Além disso, a Justiça determinou o cancelamento de seus registros como atiradores.