O avanço nas investigações do caso Marielle Franco preocupa Bolsonaro.
A questão para o inelegível é simples. Quanto mais aparecem evidências de seus muitos crimes, maior a chance de que a justiça rompa sua inércia e sua covardia e o coloque no lugar em que devia estar: a cadeia. O xadrez. O xilindró.
(Eu sou abolicionista penal mas abro exceções.)
Tarcísio de Freitas e Romeu Zema ilustram os dilemas da direita que percebe que terá que se adaptar aos tempos pós-Bolsonaro. O governador carioca, ops, paulista, ensaia o movimento improvável de manter a proximidade com Bolsonaro e, ao mesmo tempo, se adaptar aos ritos da convivência democrática. Mas é uma composição instável. Esse figurino – de “fascista republicano”, por assim dizer – não é fácil de ser envergado.
Já Zema tem optado por um extremismo raiz. Até citação de Mussolini está valendo.
Parece que o governador de Minas, que notoriamente nunca leu um livro na vida, é grande fã de pílulas de sabedoria de autoria nem sempre confiável, como as encontradas na página da internet “Pensador”. Em suma: é um intelectual refinado demais para ser capaz de assumir, de forma verossímil, o manto de herdeiro do “mito”.
A eventual condenação de Bolsonaro é um bom recado para os oportunistas que surfam no bolsonarismo achando que terão só vantagens. Sobretudo se acompanhada da cassação dos mandatos de pelo menos alguns dos extremistas mais vocais em seus ataques à democracia, como Carla Zambelli e Sergio Moro.
Caso o governo Lula consiga entregar uma parte da prometida melhoria das condições de vida da maioria pobre e, melhor ainda, avance um pouco na regulação das redes, teremos condições de iniciar a desidratação da base social da extrema-direita.