O patrocinador profissional da extrema direita não suja as mãos com Pix. Por Moisés Mendes

Atualizado em 30 de julho de 2023 às 9:58
Jair Bolsonaro com expressão sem graça
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes

Algumas conclusões, mesmo que ululantemente óbvias, sobre a história dos R$ 17,2 milhões depositados via Pix em uma conta de Bolsonaro.

A primeira conclusão é oferecida por esse dado. A grande maioria das 769 mil transações não tem valor expressivo.

O Coaf apurou que apenas 18 pessoas e três empresas fizeram depósitos com valores entre R$ 5 mil e R$ 20 mil.

Isso quer dizer que o patrocinador profissional da extrema direita não aparece nessa listagem do Pix para o alegado pagamento de multas do seu líder.

O campo de atuação desse patrocinador é outro, desde muito antes da eleição de 2018, quando se formou o que viria a ser a estrutura do gabinete do ódio e das milícias digitais.

Sabe-se que há figuras consideradas relativamente conhecidas entre os doadores de até R$ 20 mil, mas os nomes que aparecem não têm alcance na mídia e nas redes.

É um grupo de quase famosos. O locutor de rodeios e amigo de Bolsonaro Cuiabano Lima, o ex-ministro do TSE Admar Gonzaga Neto, o empresário Marcos Ermírio de Moraes e o ex-advogado de Bolsonaro Gonzaga Neto.

Quem já ouviu falar deles? Quem, de fora da Fiesp, sabia que o grupo Votorantim tinha um herdeiro chamado Marcos Ermírio de Moraes?

Por que o Coaf não listou outros nomes? Porque não existe, entre esses 18 doadores, gente mais conhecida do que esses quatro citados.

Onde estão então os empresários que sustentaram o discurso de Bolsonaro, que correram o risco de se aproximar dele e repetir até suas falas criminosas e financiaram o gabinete do ódio?

Estão escondidos desde o início da caçada de Alexandre de Moraes. Essa área do Pix não é para eles, é coisa para amadores, gente que ainda age com o coração.

Os profissionais são calculistas, não metem a mão nessa cumbuca. Usam laranjas, como sugerem os relatórios de investigadores que lidam com os financiadores do golpe.

Usaram laranjas para mandar dinheiro aos manés e aos terroristas do 8 de janeiro em Brasília, como usaram um laranjal de gente comum para financiar o bloqueio de estradas com caminhões.

Ninguém acredita que os patrocinadores do 8 de janeiro, que chegaram a ser presos, entre os quais estão alguns Zés das Couves, sejam mesmo os financiadores do golpe.

São bolsonaristas com algum dinheiro, como empresários de pequeno e médio porte (os grandes são as exceções), que pagaram lanchinhos, barracas, banheiros, bandeiras, ônibus.

O grande financiador não sujou seu Pix com a exposição de nome e CPF na mobilização do golpe.

E agora, na doação dos R$ 17,2 milhões, é provável até que parte do dinheiro tenha sido pulverizado entre laranjas, mas é pouco razoável.

Nesse caso, o que prevaleceu foi mesmo o gesto do bolsonarista amador, que dormiu tranquilo depois de depositar alguns trocados para Bolsonaro. Tanto que a média, dividindo-se o total do dinheiro pelo número de operações de Pix, fica em apenas R$ 22. Tudo coisa miúda de gente fiel ao inelegível.

O grande bolsonarista profissional ficou de fora porque é gato escaldado e só age nas sombras. O fascismo depende desse sujeito para sobreviver, mesmo sem Bolsonaro.

E esse financiador abastado do golpismo ainda não foi alcançado pelo sistema de Justiça. Será alcançado um dia? Ele tem certeza de que só pegarão os seus manezinhos.

Caminhoneiros fechando estradas em 2022. Foto: Reprodução

Inveja

As esquerdas não admitem, mas trazem apertada no peito uma inveja incômoda.

Como Bolsonaro, Deltan Dallagnol e Carla Zambelli conseguem arrecadar tanto dinheiro via Pix?

A extrema direita é mais solidária do que todas as esquerdas juntas?

Dizer que é lavagem de dinheiro é um argumento simplista e também uma manifestação de despeito.

O fato é que eles sensibilizam e mobilizam doadores. É terrível admitir, mas é a verdade.

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