Recebi de um amigo querido uma carta da qual reproduzo abaixo um trecho:
“Paulo amigo
Confesso que fazia algum tempo que não visitava o seu blog. Hoje fui até lá e vi o texto da Bia.. Nos nossos tempos na Exame, eu a achava, no mínimo, excessivamente autocentrada. Mas, depois de ler o texto, sinto-me na quase obrigação de dizer que mudei de ideia a respeito dela.”
O que fez Bia para, em poucas linhas, mudar uma antipatia de décadas?
Ela mostrou, num depoimento ao qual dei o nome de Pequeno Tratato de Moral e Ética no Jornalismo, algumas coisas que estão em falta.
As faculdades de jornalismo deveriam estudar o texto de Bia para elevar seus alunos e prepará-los, eticamente, para a vida nas redações..
Bia exibiu coragem de dizer as coisas. De se colocar claramente. De não compactuar com a deslealdade, a desonestidade e a covardia.
Bia, em suma, demonstrou caráter.
Bia é transparente, sincera. Não há nada mais diferente dela do que o queriiiido artificial e hipócrita de tantas mulheres nas redações. (Alguns desses queriiidoss já fazem parte da lenda das redações e são recordados com desprezo por muitos jornalistas.) Se ela chama você de querido, é porque é. Se não chama, é porque não é;
“Não foi fácil dizer aquelas coisas”, ela admitiu no Facebook. “Mas é o que muitos pensam e apenas não têm coragem de dizer.”
De seu jeito peculiar, em que você percebe a sabedoria interiorana adquirida em Tatuí e não perdida nas cidades grandes onde espalhou sua amizade, sua integridade e sua competência de fotógrafa excepcional.
Sobre os calabares que encontrei na Globo, ela tem um ponto que me despertou risada – mas de admiração, e não de escárnio, porque eu imagnei por alguns segundos a cena.
Ela disse que se os traíras – jamais esquecerei Nelson Blecher se autodesignando assim em nosso último contato telefônico – tinham algum problema comigo, deveriam acertar as coisas como homens.
Se necessário, no tapa.
Mas apunhalar pelas costas não vale. É feio. É covarde. É indefensável. É moralmente repulsivo.
Bia me comoveu também porque mostrou – para mim, pessoalmente – o que é a amizade verdadeira, aquela que Montaigne descreveu em linhas magníficas como a união de dois tecidos tão harmoniosos que você nem nota a costura.
Ela não se escondeu. Não fingiu que não era com ela. Não se omitiu.
Não lavou as mãos.
Jamais pedi a ninguém que queimasse as vestes por minha causa. Não sou louco. As pessoas têm que pagar as contas.
Mas há certos momentos em sua vida em que você distingue perfeitamente quem é quem em seu universo de relações.
Quem vai estender a mão caso você caia e mostrar claramente reprovação a quem o derrubou, tanto mais se for pelas costas, quando você estava distraído.
E quem vai olhar para o outro lado, fingindo não ter reparado. Os êmulos de Pilatos.
Bia, a fotógrafa de Tatuí, é um alento num mundo tão pobre em coragem.
É um orgulho tê-la como amiga há quase 30 anos.