Publicado originalmente no blog do autor
O general Augusto Heleno raramente aparece no cercado do Palácio da Alvorada. Raramente dá entrevistas, raramente fala de forma direta na ameaça de golpe. E hoje apareceu para falar, lá no cercado de Bolsonaro, sobre golpe.
Heleno surgiu de repente, para dizer que não há possibilidade de intervenção militar. Logo depois, Bolsonaro renovaria ali mesmo suas ameaças em direção inversa.
Heleno disse que a nota que emitiu na semana passada, em resposta a despachos do ministro Celso de Mello, não era um recado para o Judiciário:
“Não dirigi a nota a ninguém. Uma nota completamente neutra. Só coloquei o problema, não falei em Forças Armadas (…) Isso é uma coisa absurda. A imprensa tá comentando tanto isso que vai vir uma geração de jovens com isso na cabeça, (e dizer) que bacana fazer uma intervenção militar”.
A nota completamente neutra, segundo ele, era aquela que alertava para consequências imprevisíveis, diante dos conflitos que identificava entre governo e Judiciário por causa da possibilidade de apreensão do celular de Bolsonaro.
Hoje, Heleno atribuiu a confusão à imprensa, que leu tudo errado.
“Se essa geração vier achando que intervenção militar resolve alguma coisa, vamos formar uma geração completamente deturpada. Intervenção não resolve nada. Isso só tem na cabeça da imprensa”.
É interessante que o general tenha aparecido de repente para falar com o que sobrou da imprensa no cercado do Alvorada, já que Globo, Folha e outros veículos desistiram de ser atacados por Bolsonaro e por militantes todas as manhãs.
Agora, é preciso parar para ler com calma o novo recado do ministro do Gabinete de Segurança Institucional. Heleno parece estar dizendo: eles que reajam lá, mas nós, os militares (mesmo de pijama), não seremos protagonistas de nada que conspire contra a democracia.
Mas quem seriam eles? Bolsonaro e os filhos? O grande líder Abraham Weintraub? Os seguidores de Olavo de Carvalho? Esses estariam em outra frequência, fora da batida dos militares?
O general não iria aparecer assim, ao caso, para dizer o que disse. Com um detalhe: repetiu que a possibilidade de apreensão do celular de Bolsonaro seria “uma agressão à normalidade institucional”.
Heleno afasta completamente a possibilidade de golpe? Pode um general aparecer para dizer que intervenção militar é uma bobagem, se essa é uma possibilidade que alas do governo estariam considerando?
O importante é que Heleno apareceu, com máscara preta e óculos escuros.
O OUTRO RECADO
No mesmo cercado, logo depois da fala de Heleno, Bolsonaro andou em direção contrária e amplificou os ataques ao Supremo.
A partir de agora, disse o sujeito, a Polícia Federal não cumprirá todas as ordens que receber do Judiciário.
“Não teremos outro dia como ontem, chega. Querem tirar a mídia que eu tenho a meu favor sob o argumento mentiroso de fake news.”
Mais adiante, Bolsonaro afirmou ter em mãos as “armas da democracia”. E disse que “ordens absurdas não se cumprem” e que “temos que botar limites”.
É provável que os militares tenham deixado os civis do fundamentalismo bolsonarista atirando sozinhos? Ou tudo passa a ser provável, mesmo o improvável.
ELA QUER SER PRESA
Todos sabemos agora de Sara Winter, que até alguns meses atrás era Sara Fernanda Giromini, antes de se apresentar como líder feminista.
Pois ela se esforça para ser presa como acusada de ser parte da fábrica de fake news e de agressões ao Supremo.
Fica uma manhã na cadeia, sai à tarde e vira a líder da extrema direita entre as mulheres.
Sara Winter quer ser lenda viva. Imaginem contar daqui a alguns anos que a guerra civil foi deflagrada pela desobediência à Justiça de uma moça que se chamava Sara Winter.
Que outono.