Por Eugênio Aragão
É do teatrólogo russo Anton Chekov a frase célebre “se for, no primeiro ato, pendurar, na parede, uma pistola, no último, deve-se atirar com ela – do contrário, não a pendure.”
Bolsonaro pendurou, desde seu primeiro dia no governo, a pistola na parede. Ameaçou o STF, homenageou um torturador, afrouxou as regras de aquisição e posse de armas pela população, participou de atos públicos contra o Congresso e o judiciário e, dentre outras bazófias, prenunciou não aceitar o resultado das eleições presidenciais de 2022, se ele não for eleito.
Ninguém pode dizer que não viu a pistola dependurada. Todos os dias fomos assaltados com o discurso ameaçador e disruptivo do presidente da república. Seu mandato tem sido exercido com improbidades e indecoro a rodo. Não pode ter passado desapercebido. Mas, até agora, apesar da mais de uma centena de representações por crimes de responsabilidade à presidência da Câmara, nenhum dos presidentes da casa legislativa se animou a instaurar o respectivo processo.
E Bolsonaro não para de lançar seus olhares lânguidos à pistola na parede. Gosta de ser gabar com “seu exército”; exército, aliás, com longeva tradição de golpes desde 1889, cujo comando baixou a cabeça a seu capitão reformado, quando este lhe determinou violar a lei que impunha aplicação de punição ao general-intendente da ativa Eduardo Pazuello, por ter participado de ato político de apoio ao presidente da república.
O sinal está amarelo. A menos que se tire de cena, a pistola da parede ou o ator que a possa usar, tudo sugere que, no último ato de seu governo, Bolsonaro a descarregará sobre a sociedade brasileira. Passou da hora de agir.