Não vejo, no momento, possibilidade de caminharmos para o Apocalipse Nuclear por causa do povo palestino. O máximo será o uso do petróleo como arma e um maior bloqueio e isolamento de Israel, com uma nova onda terrorista “de massa” e “global”, tipo ISIS/Daesh. Esses são limites do mundo árabe e muçulmano.
Hizbolah, o Irã e o Movimento houthis também estão na “arapuca” que V. Klagsbrunn identificou no caso de Israel. Todos se armaram e expandiram seu poder militar e agora estão paralisados sobre a possibilidade/momento do uso de tal arsenal acumulado nos últimos dez anos.
Há um teste e risco geral de uso do poder militar. Para o que serve uma grande panóplia militar: em primeiro lugar, para dissuadir. Israel perdeu seu poder de dissuasão. Agora está sendo testada a capacidade de dissuasão do Irã.
Ao mesmo tempo, o que a Extrema Direita israelense nunca entendeu foi o que ocorreu na Argélia (bom momento para rever “A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo, 1962) entre a “tática” terrorista e a repressão francesa. E, ainda, o que aconteceu no Vietnã depois da “Ofensiva do Tet/Ano Lunar”, em janeiro de 1968, quando num imenso esforço o Vietcong/FLN atingiu fortemente os Estados Unidos e o regime de Saigon.
A resposta americana, com ampla superioridade militar, praticamente destruiu a FLN. A guerra passou a ser conduzida pelo Exército do Povo do Vietnã (do Norte, o Quan Doi Nhan Dân). No entanto, o Tet é o momento em que a Guerra do Vietnã foi “perdida” por Washington.
A superioridade militar não garantiu objetivos políticos e, no limite, uma potência pode “ganhar” a guerra e perder a Paz. Aliás, são experiências recentes no Iraque e, claro, no Afeganistão, que atestam o corolário clausewitzuano. O principal corolário da superioridade militar é negociar a Paz em posição “de force”!
A elite política israelense, soberba em sua postura de superioridade – no final, aguerridos com seu arsenal nuclear e envolvida no “Espírito de Massada” – perdeu todas as janelas de negociação. Não há solução fora de um Estado Palestino Livre e viável ao lado de um Israel seguro pelo reconhecimento de jure de suas fronteiras.
Quando Tel Aviv desligitimou a Autoridade Palestina abriu a porta, no mesmo processo, para o crescimento do radicalismo fundamentalista religioso. Ao identificar o “Fatah” como inimigo principal, aceleraram a colonização da Cisjordânia – o que ameaça a liderança de Mahmoud Abas e favorece seus inimigos fundamentalistas. Isso explica o crescimento do Hamas/Irmandade Muçulmana, Hizbolah e Jihad islâmica.
Por maior horror que a atual assimetria de forças na Palestina produza, não é um “hotpoint” para uma “Guerra Mundial”. Um descontrole da ordem mundial de fato está em curso – e, sim, vivemos uma situação de riscos elevados, com a destruição das “pontes” existentes, tais como os acordos sobre teste e número de ogivas nucleares, START e outros. A desmoralização da ONU é a principal contribuição da crise na Palestina para a crise geral da Ordem Mundial.
Contudo o Estreito de Taiwan, de um lado, e a sensação de risco e fragilidade do “oblast” de Kaliningrado e o estatuto da Crimeia são os verdadeiros pontos nevrálgicos hoje. O processo colocado em prática pela NATO de “roll back” da Rússia é, hoje, o maior risco estratégico.
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