O ator baiano abre seu coração sobre suas dificuldades de trabalhar ao lado de Matt Damon na ficção científica “Elysium”.
Depois que abandonou a franquia Bourne, Matt Damon está desfrutando um renascimento na carreira com uma série de grandes projetos. Primeiro foi o namorado flamejante de Liberace no filme da HBO “Behind the Candelabra”. Recentemente, terminou de participar de “Men in Berlin” juntamente com o bom amigo George Clooney, sobre um grupo de historiadores de arte que tenta desesperadamente recuperar uma coleção de valor inestimável roubada pelos nazistas.
Agora Damon acaba de fazer “Elysium”, um thriller de ficção científica pós-apocalíptica dirigido pelo sul-africano naturalizado canadense Neill Blomkamp (“Distrito 9”). Damon interpreta Max, um ex-ladrão de carro que vive em Los Angeles, uma cidade que evoluiu para uma gigantesca favela no futuro. Depois de ser exposto a uma dose letal de radiação no local de trabalho, Max tem apenas cinco dias para viver. Isso o inspira a migrar para Elysium, uma gigantesca estação onde as elites super-ricas vivem, já que a Terra se tornou um deserto tóxico dominado pelo crime. Elysium fornece a todos os seus residentes máquinas que curam todas as doenças e lesões em poucos segundos e Max está determinado a romper essa barreira de classe e se salvar.
Max é ajudado em sua missão por um velho amigo, o gangster Spider. Para o papel, Blomkamp escolheu o brasileiro Wagner Moura. É o primeiro filme de Moura para um estúdio americano. Moura obteve o convite muito por conta de seu desempenho como o policial fascista Capitão Nascimento. Spider, no entanto, ao contrário de Nascimento, joga do lado do bem. Moura está bastante à vontade como um bandidão politicamente correto.
“Este filme fala sobre a idéia de globalização e de exclusão e essa é uma das razões pelas quais Neil queria um elenco internacional “, me disse Moura (a atriz Alice Braga também está no filme). “Durante a minha primeira leitura do roteiro para o papel, eu fiz algo que ele não tinha inicialmente previsto para o personagem. Neil, porém, gostou da minha interpretação particular e disse-me me disse para continuar na mesma direção. Ele me mostrou que estava aberto como director”. Moura conversou comigo sobre sua primeira experiência internacional e seus problemas com outro idioma.
O que o levou a trabalhar em “Elysium”?
Eu fiz o filme porque achei que era um projeto brilhante e porque adorei o personagem que me foi oferecido. Mas foi duro trabalhar em inglês porque você não tem a mesma relação com as palavras que tem na sua língua nativa. Quando eu falo minha língua, posso apreciar cada nuance e cada forma de frasear as palavras. Eu não consigo fazer isso em inglês .
Você teve um professor de inglês no filme?
Eu tinha um treinador de dialeto que trabalhou comigo em duas cenas do filme – não em todo o filme. Precisei disso em algumas cenas que eram particularmente difíceis e importantes porque queria fazer o melhor trabalho possível. De qualquer maneira, o diretor foi tolerante com meu sotaque porque, obviamente, eu não podia fazer muito a respeito disso.
Você está de olho agora numa carreira internacional ou vai continuar trabalhando no Brasil?
Eu quero continuar trabalhando principalmente no Brasil. Filmes internacionais desse tipo são eventos extraordinários e acontecerão uma vez por ano ou menos. Eu não acho que vou trabalhar freqüentemente lá fora porque não estou completamente à vontade atuando em outro idioma e não sou capaz de projetar o tipo de referências culturais necessárias quando você está atuando com alguém de outra nacionalidade.
Essas são questões difíceis quando se trata de trabalhar no cinema americano. A barreira da língua é enorme e também a barreira cultural. Por isso não estou tão interessado em trabalhar em filmes americanos.
(Nota: apesar dessas alegadas dificuldades, Wagner Moura me disse que vai fazer o papel do diretor Federico Fellini num filme em inglês que vai falar da passagem do cineasta italiano em Los Angeles. Fellini desapareceu por dois dias em 1957, antes de uma cerimônio de entrega do Oscar. Vai ser a primeira vez da história em que Fellini terá um sotaque baiano).