A influencer Cíntia Chagas, bolsonarista e antifeminista, foi agredida pelo marido, o deputado estadual e também bolsonarista Lucas Bove, apenas três meses após o casamento.
As denúncias de ameaça, abuso psicológico e violência doméstica puseram fim ao casamento relâmpago e ensejaram o pedido de medida protetiva contra o agressor.
Famosa pelo conteúdo conservador dirigido às mulheres nas redes sociais, ela se considerava antifeminista.
No Instagram, aconselhava mulheres sobre como serem “femininas e chiques” (se fosse o momento adequado, eu adoraria falar sobre como isso é brega).
Além do conteúdo conservador, ela grava vídeos respondendo às próprias seguidoras que a criticam, transformando seu perfil em um verdadeiro ringue de discussões entre mulheres.
Descrevendo o ex-marido como “possessivo e controlador”, a influenciadora relatou diversas situações de violência, denunciando que o deputado chegou a arremessar uma faca contra ela, além de ameaçar queimar seus pertences.
Inicialmente, no final de agosto, ela anunciou o divórcio sem expor publicamente as violências que sofrera, limitando-se a dizer que precisou pedir o divórcio por uma “situação grave, lamentável e triste”.
Nada pode ser tão característico de uma bolsonarista conservadora que cava a própria cova.
Ora, dizer que sofreu violência desmente todo o discurso conservador e antifeminista que ela propagava.
Não é preciso dizer que nenhuma mulher, bolsonarista ou não, merece sofrer violência. Os direitos pelos quais os feminismos lutam – a despeito da ingratidão de mulheres como Cíntia – devem ser usufruídos por todas as mulheres, sejam feministas ou não.
O que precisamos lembrar é que, ao propagarem discursos antifeministas, influencers bolsonaristas como Cíntia Chagas contribuem para a perpetuação das violências contra a mulher e, sobretudo, para o silêncio das vítimas.
Elas desempenham, muitas vezes, o papel do pastor que orienta a mulher violentada a se calar e “edificar seu lar”.
Cíntia Chagas é uma vítima, e quanto a isso não há dúvidas: ninguém é diretamente culpado pela violência que sofre.
Mas é fato – e ela provavelmente sabe disso – que a influenciadora se deixou (e ainda se deixa) usar pelo bolsonarismo para reproduzir discursos violentos que, para a surpresa de ninguém, voltaram-se contra ela.
Assim como muitas mulheres bolsonaristas no Brasil, Cíntia cavou a própria cova.
O casal, que só aparecia sob os holofotes representando a família perfeita de comercial de margarina que o bolsonarismo insiste em dizer que existe, era mais uma família tradicional brasileira de fachada, que terminou em um episódio, parafraseando-a, “grave, triste e lamentável”.
O agressor, o deputado estadual de SP desde 2003 Lucas Bove (PL), está solto e ainda não se manifestou.
E precisa?
Não falha nunca: é sempre um bolsonarista conservador.
Ele continuará solto, seu passado será esquecido e seu discurso conservador prevalecerá, porque é assim que as coisas acontecem no Brasil.
Que este episódio – terrível, independente do discurso violento da vítima – sirva ao menos para que outras mulheres conservadoras enxerguem que os lobos dormem ao lado.
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