Mãe Dinah se estivesse viva não ousaria responder uma pergunta: o PSDB vai ou não realizar as prévias eleitorais para a escolha do candidato a prefeito de São Paulo?
Estão no páreo, na disputa agendada para 28 de fevereiro, o vereador Andrea Matarazzo, o publicitário João Dória Junior e o deputado federal Ricardo Trípoli.
Andrea Matarazzo tem respaldo de cardeais como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outras lideranças importantes na Câmara de vereadores. João Dória se vende como o menino prodígio incensado pelo Palácio dos Bandeirantes. E Trípoli é uma incógnita: poderia ser tanto linha auxiliar de Geraldo quanto alguém que viu na disputa uma oportunidade de aproveitar o amadorismo de João Dória e a dificuldade de Andrea de lidar com o toma lá dá cá típico dessas ocasiões.
Prévias eleitorais seriam uma boa se estivéssemos numa contenda evolvendo adversários amparados em princípios ideológicos e de espírito coletivo, como nos Estados Unidos, por exemplo. No final da apuração, os perdedores ligariam para o vencedor e o cumprimentariam. E se colocariam à disposição para ajudar na campanha. Não é o caso do PSDB de São Paulo, pois o que está em jogo vai além da boa vontade dos postulantes.
Entender o que está por trás dessa disputa, mais do que senso de premonição demanda conhecer o funcionamento do partido, voltar um pouco no tempo e incluir na cena não o ex-presidente Fernando Henrique, que mudou de opinião e agora quer a suspensão da eleição, mas dois outros personagens: o senador José Serra e o governador Geraldo Alckmin – estes os grandes interessados por terem os olhos focados em 2018, quando o Brasil conhecerá o sétimo presidente do período da pós-redemocratização.
Serra e Geraldo se engalfinham pelo sonho da presidência desde 2004. Naquele ano, para segurar o colega e liberar espaço para a disputa da eleição nacional de 2006, Geraldo fez de Serra candidato a prefeito de São Paulo. Ele venceu Marta Suplicy, não sem antes assinar um papel se comprometendo a cumprir o mandato até o fim.
No início do seu segundo ano na prefeitura, porém, rasgou o que havia escrito, encarou a disputa interna com o governador em exercício e acabou derrotado: Geraldo concorreu (e perdeu para Lula) em 2006. Preterido da disputa presidencial, Serra manteve a decisão de desconsiderar o que havia escrito e acabou se dando bem: elegeu-se governador.
Em política a gente diz que vingança é um prato que se come frio. Serra veria essa máxima se confirmar dois anos mais tarde, em 2008. Do seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes, comandou a reeleição do prefeito Gilberto Kassab contra o seu próprio partido. Kassab passou com larga vantagem sobre Marta e anos luz à frente de Alckmin, numa eleição marcada por traições, falta de compromisso partidário e que selaria para sempre a discórdia no ninho tucano.
Agora, caminhando para o fim do seu segundo mandato como governador, Geraldo quer de novo encarar a corrida presidencial. Tem de tirar da frente dois concorrentes: o presidente nacional do partido, Aecio Neves, e novamente Serra. O discurso para limar o mineiro é repetido à exaustão: Aécio precisa reconquistar Minas. Com Serra o buraco é mais embaixo – e por essa razão o jogo mais complicado.
Salvo fosse uma expert em ciência política, o que não é o caso, Mãe Dinah não teria resposta para a pergunta que fizemos no início desse texto. Seria difícil para ela entender que a disputa interna entre Andrea Matarazzo, João Dória e Trípoli carrega um componente estratégico que vai além do desejo de ocupar a cadeira de Fernando Haddad. Qualquer dos três que vença fortalecerá Serra (no caso de Andrea) ou Geraldo (João Dória e Trípoli).
Um velho conhecido que não é vidente mas conhece bem os meandros do PSDB paulistano define assim a conjuntura pré-previas. “Se for para ceder um mínimo de espaço para o outro, Serra e Geraldo preferem perder tudo”.
A razão desta vez parece estar com FHC: é guerra fratricida.