A cadeia é para os manés, mas talvez não seja para Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 11 de julho de 2024 às 8:25
Jair Bolsonaro e Mauro Cid. Foto: reprodução

Brasileiros que acordam otimistas e vão dormir imersos em pesadelos do mais denso pessimismo têm uma dúvida que não se dissipa: e se, com todas as provas, em todas as frentes de investigação, Bolsonaro não for preso?

É uma dúvida para insônias recorrentes, não se sabe até quando. Mesmo que venha a ser denunciado, processado e condenado, é possível que por alguma manobra não prevista Bolsonaro escape da cadeia?

Pelos elementos postos hoje, um jurista pessimista diria que não, que é impossível escapar. Que Bolsonaro pode ser condenado a até 32 anos no caso das joias e a pelo menos 20 anos pela tentativa de golpe. E tem o caso do atestado fraudado da vacina. E ainda tem a lista de crimes da pandemia, que Augusto Aras engavetou, mas que a PGR pode voltar a examinar.

Os juristas, mesmos os mais pessimistas, lembrarão que manés do 8 de janeiro estão pegando 17 anos de prisão. Mas palpiteiros, que passam a falar como juristas, também podem dizer que muitos desses manés, já condenados, estavam soltos e fugiram para a Argentina.

O jogo político, que pode definir quem deve e quem não pode ser sacrificado pelo sistema de Justiça, é o esporte de Bolsonaro hoje para assustar o Ministério Público e o Supremo. A conferência de figuras bolsonaristas impunes em Balneário Camboriú foi parte desse jogo.

Os relógios Rolex e Patek Philippe foram enviados aos Estados Unidos no avião presidencial. Foto: Reprodução

A anunciada aglomeração contra o STF, no próximo domingo na Avenida Paulista, decidida em Santa Catarina, aumenta a aposta da afronta às instituições. Mas a tática será suficiente para conter o avanço de investigações sobre joias, vacina e golpe?

Mesmo que o cerco se feche, é possível duvidar da possibilidade de prisão de Bolsonaro? Vão prender Braga Netto ou qualquer outro militar? O véio da Havan irá dobrar de novo Ministério Público e Judiciário e escapar mais uma vez, como faz há pelo menos duas décadas?

Lula foi preso em abril, meio ano antes da eleição que iria vencer, se não tivesse sido caçado por Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Ficou encarcerado por 580 dias.

Só foi solto porque o Supremo decidiu que condenados deveriam ir para a cadeia somente depois do último recurso na mais alta Corte. Uma decisão tardia.

Não houve em 2018, em meio à exaltação do lavajatismo, maiores preocupações com levante popular se Lula viesse a ser preso. Não aconteceu nada parecido com o que se dissemina agora, por recados da grande imprensa, de que a prisão de Bolsonaro irá provocar uma convulsão nacional.

Está normalizado, entre tantas normalizações, que o sistema de Justiça se submete hoje ao receio de que poderá enfrentar reações destruidoras do fascismo. Será mesmo? Será que eles podem cassar Alexandre de Moraes no Senado?

Será que, nessa linha, o procurador-geral Paulo Gonet terá o cuidado de esperar as eleições municipais, para só depois denunciar Bolsonaro? E se o sujeito sair fortalecido do pleito de outubro?

Bolsonaro espera o imprevisível, o impossível e o imponderável, para que uma combinação de fatos nem tão mirabolantes o favoreça. Como vem acontecendo até aqui, com a ajuda de coisas bem previsíveis, provocadas por leniência, omissão e boas doses de conchavos e acovardamentos. Se Bolsonaro não for preso, qual será a novidade?

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes

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