Publicado originalmente no Tijolaço:
O depoimento da médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde – conhecida como “Capitã Cloroquina” na CPI da Covid não tem a menor importância quando trata da eficácia ou fundamentação científica, porque não só ela não tem competência científica para isso quanto pelo fato de que o mundo da ciência já descartou, e há tempos, esta droga.
Mas algumas das coisas que foram ditas por ela são importantíssimas, por deixarem expostas as mentiras que ministros do Governo contaram à CPI.
Em primeiro lugar, que o documento que, desde maio passado é usado pelo Ministério da Saúde para “orientações para tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico de COVID-19” já era precário quando foi lançado e tornou-se absolutamente superado logo que avançaram os estudos clínicos sobre o medicamento e – atenção! – jamais foi submetido à validação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias – a Conitec – como é necessário para a adoção de protocolos de tratamento ou para a aquisição de medicamento pelo SUS (Lei 1.240/11, artigos 19T e 19R, inciso I).
Depois, que Eduardo Pazuello mentiu ao dizer que o tal aplicativo Tratecov, que receitava automaticamente cloroquina para qualquer pessoa que tivesse sintomas indeterminado, como corrimento nasal ou dor de cabeça. Mayra negou que o programa tenha sido adulterado e o tal hacker, um jornalista profissional – Rodrigo Menegat, jornalista de dados, com trabalhos, entre outros, para a Folha e Estadão – apenas copiou os códigos-fonte da página do Ministério.
Em janeiro deste ano, este blog e outras publicações testaram livremente o aplicativo, com supostos pacientes com idades, sintomas ou comorbidades os mais variados, sem preencher o formulário com registro no CRM, sempre com os mesmos resultados de indicação terapêutica: hidroxicloroquina, ivermectina, zinco, azitromicina e mais doxiciclina.
Mais: Mayra desmentiu a versão de Pazuello de que soube da falta de oxigênio na crise da Covid em Manaus apenas no dia 1o de janeiro. Segundo Mayra, ele tomou conhecimento no dia 8, sem tomar qualquer providência.
As mentiras estão todas evidentes e formalizadas.
Falta, porém, perguntar quem a indicou a Luiz Mandetta para um cargo no qual, três ministros depois, segue firme e inabalável.