Os argentinos já sabem quem era o servidor que fazia a ponte entre Mauricio Macri e os seus arapongas encarregados de perseguir adversários políticos. Era Dario Nieto, secretário particular de Macri, o Sombra, ao seu lado na foto.
Esta semana, os promotores Cecilia Incardona e Santiago Eyerhabide pediram ao juiz federal Juan Pablo Auge que o secretário seja ouvido nas investigações sobre a estrutura de espionagem ilegal montada por Macri nos quatro anos de governo.
No dia 25 de junho, a polícia fez busca e apreensão na casa de Sombra, que fugiu para um carro. Encerrado no veículo, passou a deletar mensagens no celular.
As investigações já recuperaram parte das mensagens em que ele se comunica com outros assessores de Macri envolvidos nas espionagens. Quatro celulares de Nieto estão com o Ministério Público.
A espionagem era comandada de dentro da Agência Federal de Inteligência (AFI), de onde eram monitorados todos os passos de Cristina Kirchner, deputados, senadores, jornalistas, sindicalistas e líderes de entidades consideradas inimigas.
O Ministério Público já sabe que eram espionados ilegalmente, além de Cristina, o bispo Jorge Lugones, os jornalistas Hugo Alconada Mon e Rodis Recalt, o líder caminhoneiro Hugo Moyanoaneda e até Florencia Macri, irmã do presidente.
Por que Macri queria vigiar a própria irmã? Três espiões, Leandro Araque, Facundo Melo e Jorge “El Turco” Sáez, disseram em delações que Macri teria interesse em seguir os passos do cunhado, o italiano Salvatore Pica, porque estaria envolvido em atividades ilegais e até tráfico de drogas.
Macri já foi acusado de espionar outra irmã, Sandra Macri. A extensão da estrutura mafiosa da família talvez venha a ser melhor entendida com os resultados das investigações em torno da arapongagem.
Pois Nieto, com sala ao lado do gabinete de Macri, sabe tudo que acontecia ao redor do chefão. Era o encarregado de levar e trazer informações e de repassar orientações aos arapongas.
O apelido Sombra vem do fato de que estava sempre onde Macri estivesse. Era e continua sendo secretário particular, motorista, carregador de malas e celulares e o sujeito que acompanhava Macri até a porta do banheiro.
Dependendo do seu depoimento, sem data definida, o secretário poderá ter o destino de mais de 20 envolvidos nas espionagens criminosas, que foram ouvidos e presos.
Mas o Ministério Público, o Congresso e a Justiça só passaram a desvendar a estrutura da arapongagem com o fim do governo de Macri.
Esta semana, no Brasil, o Supremo decide quais são os limites de atuação dos arapongas de Bolsonaro, a partir da denúncia de existência do dossiê contra servidores antifascistas.
Na Argentina os arapongas ilegais da AFI também tinham limites. Mas toda a estrutura de espionagem de Macri, chamada por eles mesmos de Super Mario Bros, existia dentro da organização estatal.
Agentes da AFI, sob o comando da direção da agência, e gente de fora do governo participavam das ações. O grupo tinha espiões até para marcar os horários de entrada e saída dos carros de políticos da oposição no Congresso.
E no Brasil, quem é o Sombra de Bolsonaro, um obsessivo com atividades de ‘inteligência’ e com informações secretas? Uma obsessão que faz com que tenha, como ele já disse, uma ‘inteligência’ particular. E que o levou ao confronto com Sergio Moro por ser um ministro inoperante na área da arapongagem.
O Supremo deve determinar limites bem claros para que os espiões perseguidores de militantes antifascistas prestem atenção ao que é legal.
Mas arapongas são arapongas porque fazem o que fizeram na ditadura no Brasil e em toda parte e no governo de direita de Macri na Argentina.
Arapongas montam dossiês ilegais porque são arapongas. Uma hora, dizem os argentinos, a casa cai. Mas talvez só caia mesmo na Argentina.