A centralidade do Estado para o governo de urgência nacional Lula-Alckmin. Por Jeferson Miola

Atualizado em 4 de julho de 2022 às 15:44
Lula
Lula é líder nas pesquisas – Foto: Ricardo Stuckert

O futuro governo Lula a ser eleito em outubro próximo será um governo de urgência nacional. Um governo para iniciar a reconstrução da democracia, da economia, da dignidade e da soberania do país e do povo brasileiro.

Diante da brutal devastação, pilhagem e saqueio do Brasil, a reconstrução do país, em todos os sentidos, sobretudo da superação do ódio, do fascismo e da violência política e social, será uma missão não só de um governo, mas um objetivo a ser perseguido por muitos anos.

Com a amplitude da aliança desenhada, que integra o ex-tucano Geraldo Alckmin, agora PSB, Lula busca dar o significado de um governo de salvação nacional ao seu terceiro período na presidência do país.

O Brasil é palco da guerra de ocupação deflagrada pelas oligarquias dominantes por meio do impeachment fraudulento da presidente Dilma em 2016.

Nesta guerra, o Exército ocupante do nosso território, no entanto, não é nenhuma força estrangeira, mas as próprias Forças Armadas brasileiras que, partidarizadas por suas cúpulas conspirativas, foram convertidas em milícias fardadas.

Esta guerra criou uma oportunidade extraordinária para os grandes capitais – nacionais e estrangeiros – realizarem o mais brutal processo de pilhagem e saqueio das riquezas do país. Um processo radical de espoliação e recolonização do Brasil.

A privatização ruinosa da Eletrobrás, realizada às pressas, mostra a pressa da escória dominante em agilizar a repartição do butim da guerra no fim de festa do governo militar.

E mostra, também, a coesão das classes dominantes em torno do programa bolsonarista ultraliberal que, na realidade, representa o aprofundamento radical da “ponte para o futuro” – o programa que unificou todas frações das classes dominantes em torno do usurpador Michel Temer/MDB.

O legado desta guerra de ocupação é a apropriação de bens públicos por piratas capitalistas, a devastação climática e ambiental, a invasão das terras indígenas com o extermínio dos povos originários, a destruição da economia nacional e a condenação de mais da metade da população à miséria, fome, desemprego e desamparo.

Para o êxito desta guerra, foram decisivos o aparelhamento, a captura e o redirecionamento do Estado para moldá-lo à feição do projeto de destruição em curso.

Os bárbaros assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips, por exemplo, são consequência lógica das políticas oficiais e de indução estatal ao avanço de formas capitalistas criminosas de exploração econômica na região amazônica.

De igual maneira, a pilhagem da renda petroleira, que só em 2021 assegurou a entrega de R$ 41 bilhões de lucros da Petrobrás a grupos estrangeiros e outros R$ 22 bilhões a grupos privados nacionais, também é reflexo de políticas de Estado orientadas pelos interesses do grande capital em detrimento da sociedade brasileira.

Para um governo como o do Lula, que terá a missão humanitária de retirar 33 milhões de brasileiras e brasileiros da fome e outros 92 milhões que vivem em situação de insegurança alimentar [OXFAM], será vital a recuperação e o fortalecimento do Estado noutra direção.

Do mesmo modo, para enfrentar a recessão e a inflação, combater o desemprego de 12 milhões, o desalento de outros 4,6 milhões e a condição “uberizada” de trabalho de outros 46 milhões [IBGE], será fundamental a forte indução e regulação econômica pelo Estado atuante.

O mesmo se pode dizer a respeito da atuação crucial do Estado na proteção dos biomas e do clima e na defesa e proteção, com direitos e dignidade, dos povos originários e seus territórios.

Nunca antes como na atual conjuntura histórica estivemos diante da encruzilhada civilizatória que coloca nosso destino entre a democracia e a barbárie ultraliberal e o fascismo.

Com a eleição do Lula, uma tarefa de primeira grandeza será a de reconstruir o Estado social e democratizá-lo por meio de dispositivos de controle e participação popular direta e plebiscitária, mais além das Conferências temáticas, para que o país possa deixar para trás as dores, os traumas, as injustiças, os sacrifícios e as desigualdades impostas à imensa maioria do povo brasileiro.

Versão ampliada do artigo “Amanhã será outro ano” publicado no Grifo – jornal dos Cartunistas da GRAFAR

Publicado originalmente no Blog do Jeferson Miola