Fevereiro bateu de longe o recorde de temperatura global para o mês, comparado a registros feitos há mais de cem anos. Para cientistas, geralmente circunspectos, os dados da Nasa, revelados em meados de março, são um “choque”, e estamos em meio a uma “emergência do clima”. Se isto for uma tendência, os resultados serão um desastre.
De acordo com os dados da agência espacial americana, as temperaturas médias de superfície em fevereiro ficaram 1.35ºC mais quentes para o mês no período 1951-1980, margem de longe maior que a observada. O recorde de janeiro foi de 1.15ºC.
“Isto é realmente assombroso, e completamente sem precedentes”, disse, ao Weather Wunderblog, Stefan Rahmstorf, do Centro de Pesquisa de Impactos do Clima de Potsdam, na Alemanha, uma das instituições mais respeitadas do mundo no estudo do tema.
“O resultado é um choque”, escreveram Jeff Masters e Bob Henson, autores do blog. “E ainda mais um lembrete do incenssante aumento de temperaturas resultante da produção de gases de efeito estufa. Estamos agora em ritmo alucinante em direção ao máximo de 2ºC sobre níveis pré-industriais”.
O diretor de um dos três mais importantes centros de registros de temperatura, o Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, GAvin Schmidt, reagiu com apenas uma palavra: “Uau!”
Mark Serreze, diretor do Centro de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos, descreveu a condição como “absurda”. “Trabalho com o clima há 30 anos e nunca vi nada parecido”.
Segundo os cientistas do Painel Intergovernamental da Ciência do Clima da ONU, 2ºC é um limite considerado seguro. A partir daí, as consequências serão imprevisíveis.
Não só fevereiro, mas todo o ano de 2016 deverá bater um recorde, e isso acontece pelo terceiro ano consecutivo.
Quais seriam os impactos para o planeta caso esta tendência prossiga? Muitos.
O gelo está derretendo em todo o mundo, especialmente nos polos. Mais água no oceano e oceano em expansão com maior temperatura significam uma ameaça a cidades costeiras e inúmeras espécies marinhas que não vão resistir à mudança de seus habitats. Os níveis do mar deverão subir entre 18 e 59 cm até o final do século.
Em terra, borboletas, raposas e mesmo árvores procuram lugares mais altos para tentar sobreviver em áreas mais frescas. Aumentam as chuvas, queda de neve e, em diversos locais, as secas prolongadas. Tempestades se tornarão mais frequentes e intensas.
Espécies que dependem umas das outras ficarão fora de sincronia. Plantas, por exemplo, podem florescer antes de que seus insetos polinizadores se tornem ativos.
“Estes dados são muito preocupantes”, afirmou Bob Ward, diretor de políticas do Instituto Grantham de Pesquisa do Clima da London School of Economics. “Já usamos todo o espaço de manobra. Se atrasarmos ainda mais grandes cortes de gases de efeito estufa, excederemos o nível além do qual os impactos da mudança do clima provavelmente serão muito perigosos”.