Assistindo ao telejornal local da Globo no Rio de Janeiro, me peguei numa situação curiosa: senti que devia ser solidário ao prefeito Marcelo Crivella.
Vale lembrar que Crivella é um bispo fundamentalista da Igreja Universal, sobrinho do dono da Record, Edir Macedo, cantor de tecno-gospel, que tem como plano de governo evangelizar as almas infiéis e faturar alto com isso.
Ou seja, não tenho nenhuma simpatia por ele.
Ainda assim, entre sua triste figura e a Globo, eu fico com o bispo.
A Globo é muito mais perigosa.
Em relação ao prefeito, o ódio da emissora carioca tem raízes quase ontológicas, já que Crivella é umbilicalmente ligado à Record.
Então não é sequer preciso a diretoria da Globo expressar a seus jornalistas subordinados o tom de qualquer cobertura relacionada à prefeitura do Rio.
No caso da enchente que inundou a cidade nessa terça, o jornalismo oportunista e de guerra começou junto com a chuva e deve se manter por vários dias depois dela.
Tratamento muito diferente dado aos mesmos problemas que ocorriam na gestão passada, do grande parceiro da Globo, Eduardo Paes, e também em outras cidades com prefeitos amigos, como São Paulo.
Uma análise semiótica detalhada dessas gritantes ou sutis diferenças de tratamento rende certamente farto material acadêmico para cursos de jornalismo de verdade.
Ou também de relações públicas, marketing político, que, na verdade, são os ofícios dos jornalistas da Globo.
Por isso talvez ao reclamarem quando são hostilizados em espaços públicos devam se lembrar disso.
Lembrar que seus colegas políticos também são hostilizados, muitas vezes injustamente, outras não, é bastante em função dessa “cobertura jornalística” oportunista, de guerra, de marketing político ou relações públicas operado pela Globo.
Lembrar que eles não são profissionais a serviço da informação e sim a serviço de uma agenda, do mesmo modo que aqueles a quem tentam destruir.
E faz parte desse jogo sujo o revide, já que apanhar calado ninguém merece.
Nem Crivella, nem Miriam Leitão.