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Na sua coluna na Folha de hoje, Fernando Haddad fala sobre os riscos que corre a democracia. Depois de uma história do experimento democrático moderno, cujas simplificações podem ser desculpadas pela brevidade, chegamos ao momento atual.
A eleição direta, explica o professor do Insper, traz o risco de “eleição de líderes avessos às instituições que limitavam seu poder”. A democracia é ameaçada por “tiranos e populistas”.
Não há garantia que as instituições saberão defender a si próprias. Por isso, conclui Haddad, o “antídoto contra a tirania é a educação do povo para a democracia”.
Tudo bem que é um texto curto de jornal. Mas é constrangedor ver alguém que foi professor de ciência política por anos reproduzindo de forma tão acrítica um senso comum interessado.
Na narrativa de Haddad, a democracia nasceu pelas mãos da burguesia emergente (o que já implica ignorar uma boa parte da história), mas depois se emancipou completamente de qualquer caráter de classe.
Para ele, a crise atual da democracia liberal se deve a “fanatismo” e “populismo”, que não se explica de onde vêm ou a quem servem. São tipo “pragas da natureza”.
O capital financeiro não é personagem da crise da democracia. A pressão crescente dele sobre o Estado, para que se feche ainda mais às demandas vinda de baixo, simplesmente não existe.
Haddad se filia plenamente à versão demofóbica, aquela dos best-sellers sobre a crise do modelo democrático ocidental: o problema da democracia é o povo.
A coluna de André Singer, na página 2, aos sábados, era um dos pontos altos da Folha de S. Paulo. Concordando muito, concordando pouco ou mesmo discordando, sempre se saia ganhando com a leitura.
Já Haddad, até aqui (foram quatro colunas), parece querer construir para si a imagem do “político defensor da educação”, da maneira mais anódina possível. De um jeito ou de outro, todos os textos culminam na ideia de que “só a educação salva”.
Um novo Cristovam Buarque, quase. Seria bom ele olhar o que aconteceu com o Cristovam original antes de seguir esse caminho.