Na sexta-feira, 17, Roberto Alvim foi exonerado da Secretaria de Cultura do governo Bolsonaro ao plagiar Goebbels num vídeo.
Elton Mesquita, no perfil @manwblueguitar, postou o seguinte no Twitter:
“Se você parar pra pensar, cultura é um conceito meio nazista mesmo”.
mas se vc parar pra pensar, cultura é um conceito meio nazista mesmo
— eloquent mist? (@manwblueguitar) January 17, 2020
Ele é supostamente um perfil de “humor de direita” e fez “piadas” no mesmo dia com memes.
Num deles, faz uma associação dos brasileiros com macacos. No segundo, compartilha uma imagem com os dizeres: “Nós somos fascistas de verdade!!!”.
No final de 2019, Elton fez propaganda no YouTube de um livro que propaga seus ideias extremistas através do entretenimento.
Chama-se Brasileirinhos o canal. E ele faz parte do esgoto bolsonarista que promove linchamentos na internet.
Um fake ligado a uma camisetaria
No dia 2 de novembro, o DCM publicou uma reportagem com uma entrevista com Luciano Ayan sobre diferentes integrantes da rede de bolsonaristas.
Esses grupos estão no alvo da CPMI das Fake News.
Há um grupo de tuiteiros considerados “moderados”.
Eles são: Isentões, Dona Regina, Tonho Drinks, Ódio do Bem, Bolsonéas e Patriotas, entre outros.
O Diário recebeu de fontes que pedem anonimato algumas informações sobre um desses perfis.
Esses dados circularam na rede social em junho.
Tonho Drinks é um perfil de extrema direita que vem apagando suas postagens antigas.
“Medo de processo”, diz uma das fontes. Tonho tem proximidade com a família Bolsonaro. Já foi seguido por Carlos, Jair e Flávio, com quem mantinha interações.
Quem é Tonho?
A conta mais antiga Tonho Drinks nasceu no Twitter no dia 12 de maio de 2015. Ela tinha outro nome antes.
Respondia como @PedroHPadilha. Uma das fontes explica: “ao buscar no Twitter por ‘to:TonhoDrinks until:2015-05-12’, os resultados são mensagens a @PedroHPadilha, mas com o aviso: ‘Em resposta a TonhoDrinks’”.
PedroHPadilha virou TonhoDrinks no Twitter mas manteve o nome original no FourSquare, atual Swarm, aplicativo de geolocalização.
“Com as duas redes, chegamos a um nome completo: Pedro Henrique Monteiro Padilha. Apesar de ele não ser muito afeito a aparecer, dados são facilmente descobertos”, explica outra fonte.
Em uma das imagens, ele e o irmão usam uma camiseta com a expressão “Deus Vult” (“Deus quer”), lema das Cruzadas usado à larga pela extrema direita.
O assessor do presidente Bolsonaro, Filipe G. Martins, aluno de Olavo de Carvalho, é fã desse mote.
Outra camiseta traz os dizeres “Esto vir” que, traduzido do latim, significa “seja homem”.
Essa roupa é vendida na loja Vista Contra, que segue no Instagram sem atualizações desde abril de 2019 .
O estabelecimento está conectado com Tonho Drinks e, mais do que isso, um cliente chegou a reclamar com o perfil e com Xenofonte (outra conta conhecida do esgoto bolsonarista) de um atraso de entrega. A loja, em tom de brincadeira, disse que falaria com o RH.
Vista Contra seguiu 7000 perfis e, no começo, acompanhava Carlos Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Jair Bolsonaro, Paulo AP (perfil de extrema direita) e o próprio Tonho Drinks.
Justamente por esses interações, os próprios Bolsonaros e algumas figuras populares no universo olavista posaram com as camisetas da marca, fazendo propaganda.
O irmão de Pedro Henrique Monteiro Padilha postou uma foto no Instagram se declarando o “cliente nº 1”.
“Administrar a camisetaria parece que é um bom negócio para Pedro Henrique. No casamento dele, em março de 2018, comprou um terno caríssimo, assinado pelo mesmo estilista que vestiu Eduardo Bolsonaro em seu casamento [Eduardo Guinle]. As relações são próximas”, diz uma fonte.
O dossiê dado ao DCM, que circulou em junho de 2019, explica que a conta de Twitter do VistaContra tem mensagens que são enviadas por diversos dispositivos diferentes, o que é sinal de que diferentes pessoas usando o perfil.
As contas mais citadas, além de Tonho Drinks, são @manwblueguitar e @loenX8.
LoenX8 ou Leonardo de Jesus Oliveira é figura conhecida na rede de fãs de Bolsonaro nas redes sociais. Já teve dezenas de contas suspensas no Twitter e a X8 já está fora do ar.
Ele foi exposto em um podcast em que confessou ter criado fake news envolvendo Jean Wyllys e a facada que Jair Bolsonaro sofreu na campanha. O perfil @manwblueguitar, que mencionamos no começo do texto, é responsável por produzir os vídeos do Canal Brasileirinhos.
O sumiço do Tonho Drinks e um novo canal no YouTube
Recentemente, ganhou relevância um canal supostamente de humor no YouTube chamado Brasileirinhos, que existe desde 2017.
Os autores do dossiê explicam: “os vídeos repetem termos de olavetes e olavices ad nauseum, que são citados pelo Twitter da marca de camisetas. Até aqui chega-se à conclusão que a VistaContra tem uma série de pessoas que ou trabalham na mídia social ou junto com Tonho Drinks para divulgação como trocas de favores. No caso, um divulga o trabalho do outro e a ideologia como uma rede de amigos olavistas”.
“Consultando o CNPJ da empresa numa tentativa de compra, é possível saber que proprietária é Joyce Daibert”, explica uma das pessoas que tentou conseguir uma camiseta na época.
Quem é essa pessoa? Como ela se conecta com Pedro Henrique Padilha?
Joyce Barbosa Campos Daibert Moreira é preparadora física. Ela segue a loja no Instagram e vice-versa. Ela nunca posou com uma camiseta.
Entre os documentos, no entanto, o telefone que está atrelado ao CNPJ da empresa não é de Joyce mas sim o de André Barcelos Monteiro, marido dela.
Monteiro é funcionário da Petrobras e simpatizante do grupo bolsonarista.
Ele é conectado no Facebook com Leonardo de Jesus “l0en” Oliveira e Elton Mesquita, o @manwblueguitar, as contas mais citadas pelo VistaContra. Ele interpreta também um dos palhaços no canal Brasileirinhos, de acordo com nossas fontes.
“Joyce é uma espécie de laranja deles, como já virou costume nesse governo. Fizemos até um organograma, um Power Point. A Receita Federal poderia investigar essas empresas, não?”, pergunta uma das fontes.
Poderia.
Com a circulação do dossiê, Tonho Drinks parou suas atualizações no Twitter para que o grupo Brasileirinhos começasse a aparecer, salvando outro tipo de divulgação para os negócio com mensagens extremistas.
O caso da loja digital Vista Contra mostra como, além de organizar ataques e disseminação de mentiras, a milícia virtual bolsonarista mantém negócios entre amigos.
E isso tudo é incentivado pela família Bolsonaro.
O Diário do Centro do Mundo entrou em contato com Joyce Barbosa Campos Daibert Moreira e com André Barcelos Monteiro por telefone.
Não tivemos resposta até a publicação desta reportagem para esclarecimentos sobre a loja Vista Contra e o canal Brasileirinhos.
O espaço segue aberto para manifestação de ambos.