A Constituição vai destruir Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 21 de abril de 2020 às 15:36
Jair Bolsonaro. Foto: Wikimedia Commons

Publicado originalmente no blog do autor

As pandemias são surpreendentes. Bolsonaro está contribuindo para o debate sobre as frases históricas que foram ou não foram ditas por alguém. É a nova discussão, com ares acadêmicos, em tempo de peste e loucuradas.

“Eu sou a Constituição”, disse Bolsonaro ontem, e surgiram vários estudiosos dizendo que Bolsonaro estava plagiando Luis XIV, que teria afirmado: “Eu sou o Estado”.

E Luis XIV talvez tenha copiado alguém, mas quem? O certo é que grandes frases foram produzidas por produtores de frases, muito antes do marketing político.

Há frases de Maria Antonieta (dos brioches), de Dom Pedro I (eu fico), de Getúlio (eu voltarei) – essa última seria de Samuel Wainer.

Quando os Sete Povos foram atacados por portugueses e espanhóis, Sepé Tiaraju teria alertado: “Essa terra tem dono”.

Os tradicionalistas se apropriaram da frase, que é a mais repetida expressão de gauchismo. Toda vez que o Rio Grande está mal, alguém imita Sepé.

E a frase talvez seja apenas a mais perene obra do historiador Walter Spalding. Ele teria produzido uma declaração póstuma para Sepé, inspirado em outras frases, como essa atribuída a Luís XIV.

O que importa é que as frases ficam, porque uma lenda pode valer mais do que o fato (outra frase).

Uma celebridade muitas vezes se resume, com o tempo, a apenas uma declaração de efeito com ou sem sentido.

Muitas frases são apenas frases, sem significado algum. Como essa agora de Bolsonaro, que será lembrada como a mais grave ofensa à memória de Ulysses Guimarães.

Bolsonaro é um adorador de ditadores e torturadores. Um bronco que não pode ter a pretensão de ser a Constituição, porque não é nem arremedo de lei ordinária, ou da mais ordinária das leis.

Bolsonaro é um sujeito a caminho da condenação política, se a Constituição for de fato respeitada. A Constituição vai destruir Bolsonaro.

Corre em Brasília que a frase dita ontem não é dele, mas de alguém que cuidava do ponto e assoprava no ouvido do homem o que ele deveria dizer. A frase deve ser do Carluxo.

Como estavam tratando de golpe, Carluxo deve ter assoprado a frase que Bolsonaro escutou mal e errou ao repetir. A frase certa seria esta: “Eu sou a conspiração”.

Em uma versão mais próxima da realidade, poderia ter dito: “Eu sou a destruição”.