Segundo uma matéria da Reuters, as empresas Aramco da Arábia Saudita e a Total da França estão construindo uma refinaria de petróleo com capacidade de refino de 400 mil barris por dia. Ela custará U$ 10 bilhões.
A empresa chinesa Sinopec está construindo uma refinaria com capacidade de processamento de 200 mil barris por dia e o custo será de U$ 9 bilhões.
Outra refinaria está sendo construída no Texas pela Aramco saudita em parceria com a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, com capacidade de processamento de 350 mil barris por dia. Custará R$10 bilhões de reais.
Por que estou citando esses valores?
Porque a imprensa está afirmando que foi um absurdo a Petrobras ter gasto 1,2 bilhão para adquirir uma refinaria na California com capacidade de processamento de 100 mil barris por dia e capacidade de estocagem de 6 milhões de barris.
O pior é que esse valor nem corresponde ao custo real da refinaria. Dos U$ 1,236 bilhões pagos na compra da refinaria, U$ 340 milhões foram gastos na compra dos estoques de petróleo e derivados que a refinaria possuía, que já foram processados e vendidos inclusive. Sendo assim, o custo da compra da refinaria seria algo em torno de U$ 896 milhões.
Para comparar os preços das refinarias, devemos dividir o valor investido na compra/construção da refinaria pela sua capacidade diária de processamento de barris. Por exemplo, se uma refinaria processa 1000 barris por dia e a construção da mesma custou U$ 1 milhão, então o custo dessa refinaria foi de U$ 1000 por barril/dia.
Fazendo a comparação de cada uma das refinarias citadas, chegamos aos valores abaixo:
Refinaria da Aramco com a Total: 25 mil por barril/dia
Refinaria da chinesa Sinopec: 45 mil por barril/dia
Refinaria da Aramco com a Shell: 28 mil por barril/dia
Refinaria de Pasadena: 8.9 mil por barril/dia
Para mim, esse valor pago por Pasadena não parece nem de longe algo exorbitante.
Mas a imprensa a todo momento está dizendo que a refinaria custou U$ 42 milhões à Astra em 2005. Como ela vendeu a metade em 2006 à Petrobras por U$ 360 milhões?
O problema é que a imprensa está ocultando muitos fatos sobre esse caso. A grande base da mentira está no valor pago pela Astra para comprar a refinaria da antiga dona, a Crown, que é algo que ainda está sendo esclarecido, mas que é muitíssimo superior aos U$ 42 milhões. A atual presidente da Petrobras Graça Foster e os ex-diretor da Área Internacional da Petrobras mencionaram cifras em torno de U$ 360 milhões.
Outras investigações independentes na internet, como a do jornalista Miguel do Rosário do blog O Cafezinho, já mencionam algo em torno de U$ 500 milhões, pois além da refinaria, a Astra também teria comprado da Crown uma “trading” (comercializadora) que teria custado algo entre U$ 200 milhões e U$ 300 milhões.
O valor real pago pela refinaria ainda está sendo estimado, mas cada vez surgem mais e mais provas de que o valor de U$ 42 milhões é puramente fictício e representa apenas o valor das ações compradas e não todo o investimento da Astra para comprar e fazê-la funcionar adequadamente, nem contempla os investimentos feitos posteriormente pela Astra na refinaria.
Uma das provas do quão fictícia é a idéia de que a refinaria tenha sido comprada por apenas U$ 42 milhões é a informação de que a Astra em 2006 comprou outra refinaria na cidade de Tacoma em Washington com capacidade de processamento de apenas 38 mil barris por dia (BPD) pela quantia de U$ 200 milhões. Querem nos fazer acreditar que uma refinaria que processava 38 mil BPD valia U$ 200 milhões, mas uma que processa 100 mil BPD só valia U$ 42 milhões.
O pior é que é muito fácil fazer a opinião pública acreditar nisso. Basta não fazer nenhuma comparação do custo da refinaria de Pasadena com outras refinarias. Basta ficar comparando o valor que a Petrobras pagou em relação a um valor fictício que supostamente a antiga dona teria pago pela refinaria. Quando isso é repetido várias vezes por dia, todos os dias, durante um mês, a informação fica consolidada na mente da maioria dos leitores/ouvintes/telespectadores/eleitores.
Segundo a presidente da Petrobras Graça Foster, em depoimento feito no Senado, a refinaria de Pasadena hoje representa claramente um mau negócio, porque teria ao longo dos anos resultado num prejuízo de U$ 536 milhões. Essa declaração serviu de manchete para toda a imprensa, que adorou ter em mãos o número do “grande prejuízo” causado pelo governo.
Só que a própria Graça Foster havia afirmado no mesmo dia que em janeiro e fevereiro de 2014, a refinaria teve um ótimo resultado, obtendo na soma dos dois meses um lucro de U$ 54 milhões, ou seja, 10% do prejuízo citado por graça Foster em apenas 2 meses.
Poxa, se em apenas 2 meses é possível recuperar 10% do prejuízo, isso significa que em menos de 2 anos todo o prejuízo já poderia ser recuperado. Mesmo que o resultado não fosse tão bom e levasse 3 ou 4 anos, ainda sim seria algo bom. Uma refinaria de petróleo não é um investimento de um ano ou dois. Segundo Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, esse é um investimento de 50 anos.
Se daqui a 4 anos, ou seja, 12 anos após a compra, o investimento já tiver sido pago, a refinaria daí em diante dará bons lucros. Então não vejo razão para Graça Foster dizer que claramente foi um mau negócio.
Acredito que esse episódio de Pasadena servirá como exemplo por muitos anos aos cursos de Relações Públicas sobre como não se deve agir. Reitero aqui o que já disse antes. Ou as assessorias de Dilma e da Petrobras são ruins ou estão aconselhando Dilma e Graça Foster para que se ferrem.