Não há defesa para os empréstimos que ele tomou de um banco de cujos processos é relator.
A sensação que se tem, quando observados fatos ligados aos integrantes da mais alta corte do país, é que a maior parte deles parece desconhecer inteiramente o que seja ética.
Há uma certa lassidão no comportamento deles derivada da vida que levam – julgam, e não são julgados.
Joaquim Barbosa, por exemplo, não parece achar estranho pagar viagem a jornalistas para que eles escrevam matérias sobre ele no exterior.
Fux aceitou alegremente que um importante advogado amigo lhe pagasse uma festa de aniversário, como se jamais fosse julgar causas defendidas ligadas ao escritório dele.
Gilmar Mendes vai a noites de autógrafos de livros de jornalistas e posa sorridente para fotos sem que pareça lhe passar pela cabeça o conflito de interesses que existe nas relações entre magistrados e mídia.
A mesma lógica se aplica, agora, ao caso indecoroso de José Antonio Dias Toffoli e os empréstimos camaradas que obteve de um banco de cujos processos que correm no STF ele é relator.
Ainda que os empréstimos fossem com taxas acima das do mercado, ainda que o banco o tratasse com extremo rigor – bem, em quaisquer circunstâncias a ética proibiria a Toffoli fazer negócios com uma empresa tão ligada à sua atividade como magistrado.
Segundo os cálculos do Estadão, que levantou o caso, Toffoli economizou 636 mil reais em empréstimos de 1,4 milhão graças a camaradagens do banco.
Um dos problemas dramáticos do Brasil é a promiscuidade nas relações de pessoas que, para usar a grande frase do jornalista Joseph Pulitzer, não deveriam ter amigos que estejam em sua órbita de atuação profissional.
Pulitzer pregava isso para os jornalistas. Sabia que ser amigo de alguém traria um tratamento diferenciado, e quem perderia era o leitor. Uma vez viu na redação de seu jornal um político poderoso e avisou depois a equipe: “Não quero ver esse tipo de gente aqui.”
A filosofia de Pulitzer se aplica não só a jornalistas mas a todas as esferas de poder, entre elas a justiça.
Cristaliza-se entre os brasileiros a percepção de que é urgente, para o avanço do país, reinventar o poder judiciário.
Na base dessa reinvenção tem que estar uma coisa chamada ética.