Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
Algumas observações ligeiras sobre as manifestações do sábado, com interrogações sobre o que pode vir por aí.
1. O brasileiro voltou às ruas e esse é um caminho sem retorno. Mas como calibrar a frequência dos atos? O espaço entre a manifestação do dia 29 de junho e este de sábado foi de três semanas. Qual será o tempo até a próxima?
O Brasil terá fôlego para manifestações em espaços mais curtos, ou ainda é cedo para testar a capacidade de mobilização da população em atos menos esparsos?
2. Os políticos apareceram mais desta vez em Porto Alegre e na maioria das cidades, onde poucos estiveram nas ruas no 29 de junho, o que é compreensível.
Paulo Pimenta, que falou em nome de Lula, Maria do Rosário, Manuela D’Ávila, Edegar Pretto, Fernanda Melchionna, Luciana Genro, Sofia Cavedon, Raul Pont e outros, entre os mais conhecidos, marcaram presença no Largo Glênio Peres. Miguel Rossetto e Luciana já haviam aparecido no ato anterior.
As bandeiras dos partidos também estão de volta às ruas. Sem partido, não há política, já dizia o conselheiro Acácio.
3. A presença de Chico Buarque na manifestação do Rio é mais do que o resgate simbólico de uma militância poderosa contra a ditadura.
É um recado de Chico, não necessariamente à sua geração, mas a todos os artistas: não dá mais pra ficar fazendo oposição a Bolsonaro em vídeos e jograis sobre o genocídio na internet. É preciso ir às ruas. Chico foi, no dia em que fazia 77 anos.
4. Parte da esquerda pretendia ver Bolsonaro sangrar até a eleição. Agora tem pressa, porque pode ser atropelada pelas ruas.
Em síntese, vale o que disse Manuela D’Ávila em cima do caminhão de som em Porto Alegre: “Não vamos esperar 2022, nós não temos tempo”.
Pode até não dar certo, mas não tem outro jeito. Impeachment é agora a palavra de ordem, mesmo que sem consequência imediata e com todos os riscos envolvidos (principalmente de golpe).
As lideranças da esquerda com mandatos terão que ajudar a esticar a corda que já foi para as ruas bem esticada.
5. A todo momento estará presente o debate sobre a provocação da direita para que Lula apareça.
A Folha chegou a destacar na capa que Lula havia se ausentado de novo das manifestações. Equivale a uma pergunta: não vai aparecer?
Não vai e não deve, segundo a maioria dos avaliadores de ganhos e perdas. Mas em algum momento Lula terá de marcar presença, sem o risco (que existe, sim) de ser vaiado por gente da própria esquerda, mesmo que por apenas três segundos.
Tem gente da esquerda que acha possível seguir em frente sem Lula, sendo ou não candidato. Ah, tem muita gente.
6. Os jovens são de novo os donos das ruas. É a melhor de todas as notícias.