Romário está cheio graça. Será o relator da CPI da CBF. Protocolou o pedido na quinta feira, na esteira da prisão de Marin e outros pilantras da Fifa. Quer investigar, principalmente, a venda de direitos de transmissão de eventos esportivos.
No Twitter, o senador escreveu o seguinte: “Acho que, como ex-jogador, tenho muito o que contribuir”.
Num discurso no plenário da Câmara, anunciou sua intenção de assumir a relatoria para que “tudo o que for apurado seja devidamente registrado”. O primeiro a depor será Marco Polo Del Nero, presidente da entidade (ao menos por enquanto).
Romário tem a chance de prestar um serviço inestimável ao Brasil, mas seu trabalho só poderá ser levado realmente a sério se envolver uma organização histórica e umbilicalmente ligada ao à turma da CBF: a Globo.
A cobertura do escândalo pelo Jornal Nacional parece, para um desavisado, equilibrada. No dia em que o caso estourou, foram 14 minutos em que nenhum nome foi poupado, inclusive o do empresário J Hawilla, devidamente identificado como dono de afiliadas. Ao final, Bonner leu um editorial curto lembrando da necessidade de um ambiente de negócios honesto no esporte. OK.
Mas espera um pouco.
Nesses 24 anos — o período sob o crivo do FBI —, a Globo não foi um personagem secundário da história. Neste tempo todo, com milhões de dólares voando, cartolas enriquecendo, a TV não viu nada?
O parceiro Ricardo Teixeira foi poupado completamente até cair de podre. Ele estava no comando da CBF quando a Globo fez uma transação para adquirir os direitos da Copa de 2002. A Receita a multou em 615 milhões de reais.
Uma empresa de fachada foi aberta num paraíso fiscal, as Ilhas Virgens Britânicas, com o objetivo exclusivo, segundo o Fisco, de sonegar. O DCM contou a história rocambólica do crime num documentário.
Hawilla, delator do esquema, dirigiu a área de esportes da Globo em São Paulo até 1979. Montou a Traffic, enriqueceu. Criou em 2003 a TV TEM (Traffic Entertainment and Marketing), o maior grupo de afiliadas da Globo no interior de São Paulo. De acordo com um perfil escrito pelo jornalista Nelson de Sá, foi também do grupo Globo que Hawilla comprou, em 2009, o Diário de S.Paulo.
A Globo tem a Copa há décadas. Os dinossauros não se lembram do campeonato brasileiro sem a narração de Cleber ou Galvão. Hawilla teria usado dinheiro da propina em suas negociações?
Romário já avisou que quer sair para prefeito do Rio em 2016. Pode poupar a Globo na comissão parlamentar de inquérito e ter uma campanha, digamos, sem solavancos. Essa decisão vai definir a verdadeira estatura do Baixinho.