“Vergonha é roubar merenda!”.
A frase, seguida de um empurrão num policial, pode custar caro ao petista João Paulo Rillo. Ou melhor, pode custar a sua cassação como deputado estadual por São Paulo.
O fato ocorreu no mês passado, durante a ocupação dos estudantes na Assembleia Legislativa – eles pediam a instalação da CPI da Merenda.
Os policiais tentavam tirá-los à força e Rillo reagiu à truculência.
No final, numa ação emblemática que durou quatro dias, os jovens ocuparam o plenário e, pela segunda vez em menos de um ano, acabaram vencendo Geraldo Alckmin mesmo que de maneira capenga – a CPI está em vias de ser instalada, mas será coordenada pelos paus mandados do governador.
Sobre a atuação do deputado, seu colega, Delegado Antônio Olim (PP), representou o parlamentar do PT para responder no Conselho de Ética da Casa por ter humilhado e agredido o PM.
O Coronel Telhada (PSDB) ainda discutiu com uma das estudantes da ocupação, chegando a dar voz de prisão a ela. Sua assessoria informou que ele também denunciaria Rillo por protegê-la.
A Assembleia Legislativa é um local hostil para toda discussão relacionada à Máfia da Merenda e àqueles que tentam colocá-la na pauta.
Em tese, devia ser o contrário: a instituição deveria agir de acordo com o interesse da sociedade, investigar irregularidades e punir os criminosos.
Uma das ferramentas para isso é justamente o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Mas o interesse dos parlamentares de investigar escândalos contra o governo pode ser medido pelo esforço — ou, melhor, pela falta dele — de se criar o Conselho.
Após 17 meses do início desta legislatura, ele ainda não havia sido constituído.
Até a semana passada, quando foram escolhidos o presidente e o vice: Coronel Camilo (PSD) e Luiz Fernando Machado (PSDB), respectivamente.
Mas, bingo!
Ainda que a Casa tenha três membros citados na roubalheira da merenda – Fernando Capez (PSDB), presidente, Luiz Carlos Gordim (SD) e Fernando Cury (PPS) – os aliados do governador se apressaram em anunciar a “primeira grande tarefa” do Conselho: avaliar a representação a partir do empurrão de João Paulo Rillo no PM.
A despeito de mais esta imoralidade – o que se diz na Assembleia é que a ameaça de cassação de João Paulo Rillo no Conselho serve como moeda de troca para que o PT não se movimente na CPI da Merenda -, é importante que a sociedade saiba que a gestão Alckmin acumula outras máfias ainda mais graves que a da merenda.
Para ficar nas mais conhecidas, há a do ICMS, em que funcionários da Secretaria Estadual da Fazenda cobravam propina de empresários para diminuir ou excluir suas dívidas e multas de ICMS, e as máfias do Metrô e da CPTM, que consistem na formação de cartéis entre empresas em diferentes momentos dos 20 anos da gestão estadual tucana.
Interessante notar que a mobilização pelo fim da corrupção, notadamente percebida quando ela é praticada por representes do PT, fato que em nível nacional levou ao golpe perpetrado por José Serra, Eduardo Cunha, FHC, Temer e cia, não encontra sequer traço de ressonância nos escândalos organizados a partir do Palácio dos Bandeirantes.
O caso do deputado João Paulo Rillo é o exemplo mais recente disso.
Por defender estudantes da truculência policial, e sobretudo exigir de seus pares uma investigação isenta e responsável sobre um vergonhoso caso em que, de uma sala contígua à do governador, se mantinha uma quadrilha focada em “roubar o lanche” das crianças, ele agora se vê ameaçado de perder o mandato e o direito conquistado nas urnas.