Esta é mais uma reportagem da série do DCM dedicada a investigar o papel da Sabesp e de seu controlador, o governo do estado de São Paulo, na crise da falta de água. As demais matérias estão aqui. Fique ligado.
A Sabesp anunciou no dia 20 de julho que venderá 24 propriedades estimadas em R$ 195 milhões, além de renegociar dívidas de 22 municípios no Cadastro Informativo dos Créditos Não Quitados de Órgãos e Entidades Estaduais (Cadin).
No mesmo dia, o presidente da empresa, Jerson Kelman, deu uma entrevista à Folha de S.Paulo defendendo novamente que não haverá rodízio ou um racionamento mais severo em 2015. O nível do sistema Cantareira, que sofreu a seca mais severa ano passado, está em 19% com o uso do volume morto. E o executivo deu uma declaração, no mínimo, controversa.
“O cidadão paga muitas vezes mais pela conta de celular do que paga pela conta de água”, disse, defendendo que os paulistas podem pagar mais caro do que o aumento de 15,24% das tarifas.
O peso maior nas contas foi aprovado pela ARSESP, órgão regulador da Sabesp. No entanto, a companhia queria um aumento de 22,7%.
Apesar de defender o aumento das tarifas, Jerson Kelman diz em diferentes entrevistas que a população está de fato economizando água. O que ele omite, no entanto, é que a empresa não fiscaliza prédios comerciais que tem suas contas zeradas por falhas de medição.
Fontes técnicas e do alto escalão confirmaram ao DCM que as perdas em cobranças tarifárias nestes edifícios chegam a R$ 200 milhões — o que quase corresponde aos valores de imóveis que a empresa pretende se desfazer neste momento.
A situação financeira da empresa, no entanto, está mais grave do que aparentam as notícias fazem crer.
Só no período do Carnaval, em fevereiro, a Sabesp demitiu 300 funcionários, muitos deles responsáveis pela manutenção de dutos. De acordo com Renê dos Santos, do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), os cortes chegam a até 600 pessoas se forem considerados tanto 2014 e 2015, período da crise da Cantareira.
No mês de março, o governo do estado tirou dinheiro do tesouro público para quitar dívidas previdenciárias da Sabesp. Foi mais de um bilhão de reais.
Enquanto passou por uma reestrutura profunda, o balanço da companhia em 2014, divulgado naquele mesmo mês, caiu de R$ 1,9 bilhão para R$ 903 milhões. Nos primeiros três meses de 2015, o lucro também caiu de R$ 477,6 para R$ 318,2 na comparação anual. É uma perda na casa de 50%.
Quanto aos gastos internos, a empresa informa que está reduzindo, o que se mostra na diminuição do montante de R$ 2,03 bilhões no ano passado para R$ 1,36 bilhão neste ano. Mesmo assim, os gastos com publicidade já estão em R$ 20 milhões em 2015, o dobro do mesmo período no ano passado.
Uma decisão judicial de 22 de abril de 2014 determinou que cinco antigo altos funcionários já afastados fossem reintegrados ao quadro de funcionários. O DCM teve acesso exclusivo ao documento e a sentença determina uma multa de R$ 50 mil mais pagamento dos salários, 13º, férias proporcionais e depósitos no FGTS ajustados com a atual inflação. O argumento para a condenação foi que as demissões foram sem justa causa no final de 2012.
De acordo com dois funcionários da empresa que pediram anonimato, essa determinação abre um precedente. A Sabesp pode ter um rombo financeiro em suas contratações na escala de milhões de reais enquanto demite cerca pelo menos seis centenas de funcionários que poderiam estar diminuindo os efeitos da crise hídrica.
No relatório da CPI feito pela Câmara Municipal, vereadores de São Paulo pedem a criação de um órgão fiscalizador da prefeitura no lugar da ARSESP de Alckmin, considerando que seu governo já é o acionista majoritário da companhia.
A Sabesp nega oficialmente as informações e diz que as pessoas economizaram água graças aos seus esforços em campanhas. O investimento em propaganda triplicou durante a reeleição do atual governador, Geraldo Alckmin.