A crise não são só os 20 centavos da gasolina. Por Fernando Brito

Atualizado em 18 de junho de 2022 às 9:45
Bolsonarista reconhece: poder de compra da gasolina é o menor em 15 anos. foto da fachada de um prédio da Petrobrás.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Fernando Brito

É claro que a “desgovernança corporativa” do governo e da Petrobras é responsável por boa parte do desastroso comportamento do mercado financeiro nesta sexta-feira, na qual a Bovespa perdeu os 100 ,mil pontos dos quais não baixava desde o início de novembro do ano passado e o dólar subir a R$ 5,15.

Mas não é só o acréscimo de R$ 0,20 no preço do litro da gasolina ou o de R$ 0,70 no do diesel e nem mesmo a reação enlouquecida de Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira e Arthur Lira que criaram o “sextou” de caos no mundo da grana.

A coleção de más notícias é vasta e envolve inflação e recessão ameaçando em escala global.

O índice da inflação registrado na Zona do Euro – 8,1%, em 12 meses – é recorde desde a criação da União Europeia, os norte-americanos falam abertamente em recessão, como nesta matéria de hoje do NY Times. Quem, ainda assim, achar que os pobres não importam, vá ver o que acontece com as ações da Tesla, do badaladíssimo Elon Musk.

Quando eles caem, nós, que vivemos de vender-lhes produtos primários, caímos também, porque nos conformamos a não ter dinâmica econômica própria, o que, claro, não é deixar de ter visão global.

O preço do minério de ferro, um de nossos mais fortes itens de exportação caiu mais de 5% na China, em razão das expectativas de menor crescimento do país, arrastando aqui as ações da Vale para uma queda igual.

A expectativa de recessão se espalha, com inflação e juros altos empurrando para baixo as expectativas do comércio. Por aqui, empresas do varejo, físico e eletrônico, perderam cerca de um terço do seu valor de mercado.

Cresce a apreensão de que a economia global esteja caminhando para um recessão desastrosa e, desta vez, o Brasil não tem o colchão do consumo interno para amenizar seus efeitos.

A solução primária tem sido sangrar os orçamentos públicos, abrindo mão de receitas e lançando perigosamente os recursos que poderiam estar sendo dirigidos a programas de retomada de investimentos no ralo de subsídios e, pior, subsídios de natureza eleitoral.

É como se estivéssemos transformando as contas públicas num lamaçal e isso nos impedisse de ter onde nos apoiarmos para reerguer o país. Até o Supremo, pelas mãos bolsonaristas de André Mendonça, lança-se a contribuir para isso, invertendo a lógica jurídica tradicional de travar tudo o que oferece perigo à arrecadação pública até que se esclareçam as razões, para mandar cessar impostos que podem montar a quantias que arruínem a prestação de serviços essenciais.

Agem como se o mundo fosse acabar nas eleições de outubro, enquanto o que periga acabar, sim, é a era de desgoverno do país.

Embora seja evidente, é preciso dizer que não estamos falando de pequenos expedientes eleitorais, mas de medidas que vão deixar o país arruinado em larga escala.

(Texto originalmente publicado em TIJOLAÇO)

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