A cruzada do bolsonarismo contra o conhecimento. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 10 de julho de 2023 às 14:25
Eduardo Bolsonaro ataca professores em evento armamentista em Brasília. Foto: Reprodução

É assustadoramente reveladora a constatação factual de que o poder mobilizador do bolsonarismo vem precisamente da promoção de uma indigência intelectual coletiva.

Daí que se começa a entender melhor sua necessidade premente de eleger como seu principal adversário não o PT ou Lula especificamente, mas sim a produção do conhecimento como um todo.

E por “produção do conhecimento” entenda-se não só o ensino formal nas suas mais diferentes etapas, mas toda e qualquer forma de construção de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.

No que diz respeito a essa última abordagem, muito nos explica as “razões” expostas pelo deputado federal Abílio Brunini (PL-MT) ao defender a rejeição da imensa maioria de seu partido à reforma tributária recém-aprovada na Câmara Federal.

Raso como um pires, o parlamentar resumiu de forma, vá lá, bastante didática, como funciona a “lógica” do “debate” no seio de sua legenda: se os comunistas são a favor, logo não é bom.

Seria risível se não fosse trágico. E é trágico porque há método na canalhice.

Primeiro constrói-se a narrativa de que o comunismo é algo puramente mau, logo, qualquer coisa que seja por ele, o comunismo, defendido, só pode também ser igualmente ruim. Só aí já estão dados todos os motivos minimamente necessários para que se rejeite qualquer coisa que venha (ainda que falsamente) dessa seara.

Simples, objetivo e de fácil assimilação. Basicamente a receita padrão para toda boa Fake News. Quanto mais pronta e acabada for a ideia e menor, portanto, a necessidade de reflexão e aprofundamento sobre ao que ela se refere, tanto melhor será sua eficácia.

E assim está dada a outra face da moeda.

Como o bolsonarismo vive da mentira e da estupidez, nada mais natural de que seja justamente a construção do conhecimento o seu maior e mais perigoso adversário.

Nesses termos, em absolutamente nada surpreende o fato do também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nesse final de semana ter equiparado professores a ninguém menos do que traficantes.

Na verdade, chegou a defender que em certa medida professores seriam ainda piores, uma vez que podem causar discordâncias em meio à família.

Fora o absurdo de criminalizar a mais importante e necessária profissão de todas, eis aqui mais um fato revelador da psiquê bolsonarista: discordar, para essa gente, é mais uma espécie de perverso subproduto do… “comunismo”.

O que, é preciso reconhecer, apresenta-se de forma bastante coerente com o totalitarismo fascista tão benquisto por Jair Bolsonaro e seus asseclas.

Discordar, questionar, refletir, contra-argumentar são heresias perigosíssimas para a manutenção do ainda relevante status quo da extrema direita no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.

Nesse sentido, qualificar professores numa posição abaixo da de traficantes é condição primeira para quem quer fazer da inépcia, da burrice e da obediência canina do povo a sua grande plataforma política e maneira definida e mais do que conveniente de se recuperar o poder perdido.

Essa é e continuará sendo sobretudo a grande cruzada do bolsonarismo.

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