É assustadoramente reveladora a constatação factual de que o poder mobilizador do bolsonarismo vem precisamente da promoção de uma indigência intelectual coletiva.
Daí que se começa a entender melhor sua necessidade premente de eleger como seu principal adversário não o PT ou Lula especificamente, mas sim a produção do conhecimento como um todo.
E por “produção do conhecimento” entenda-se não só o ensino formal nas suas mais diferentes etapas, mas toda e qualquer forma de construção de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.
No que diz respeito a essa última abordagem, muito nos explica as “razões” expostas pelo deputado federal Abílio Brunini (PL-MT) ao defender a rejeição da imensa maioria de seu partido à reforma tributária recém-aprovada na Câmara Federal.
Raso como um pires, o parlamentar resumiu de forma, vá lá, bastante didática, como funciona a “lógica” do “debate” no seio de sua legenda: se os comunistas são a favor, logo não é bom.
Seria risível se não fosse trágico. E é trágico porque há método na canalhice.
Primeiro constrói-se a narrativa de que o comunismo é algo puramente mau, logo, qualquer coisa que seja por ele, o comunismo, defendido, só pode também ser igualmente ruim. Só aí já estão dados todos os motivos minimamente necessários para que se rejeite qualquer coisa que venha (ainda que falsamente) dessa seara.
Simples, objetivo e de fácil assimilação. Basicamente a receita padrão para toda boa Fake News. Quanto mais pronta e acabada for a ideia e menor, portanto, a necessidade de reflexão e aprofundamento sobre ao que ela se refere, tanto melhor será sua eficácia.
E assim está dada a outra face da moeda.
Como o bolsonarismo vive da mentira e da estupidez, nada mais natural de que seja justamente a construção do conhecimento o seu maior e mais perigoso adversário.
Nesses termos, em absolutamente nada surpreende o fato do também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nesse final de semana ter equiparado professores a ninguém menos do que traficantes.
Na verdade, chegou a defender que em certa medida professores seriam ainda piores, uma vez que podem causar discordâncias em meio à família.
Fora o absurdo de criminalizar a mais importante e necessária profissão de todas, eis aqui mais um fato revelador da psiquê bolsonarista: discordar, para essa gente, é mais uma espécie de perverso subproduto do… “comunismo”.
O que, é preciso reconhecer, apresenta-se de forma bastante coerente com o totalitarismo fascista tão benquisto por Jair Bolsonaro e seus asseclas.
Discordar, questionar, refletir, contra-argumentar são heresias perigosíssimas para a manutenção do ainda relevante status quo da extrema direita no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.
Nesse sentido, qualificar professores numa posição abaixo da de traficantes é condição primeira para quem quer fazer da inépcia, da burrice e da obediência canina do povo a sua grande plataforma política e maneira definida e mais do que conveniente de se recuperar o poder perdido.
Essa é e continuará sendo sobretudo a grande cruzada do bolsonarismo.