Em quem se pensa de imediato diante da notícia de que os chilenos rejeitaram de novo (ainda bem) a proposta de nova Constituição para o país?
Pensamos nos mais de 450 jovens que perderam parte da visão, quando tiveram pelo menos um olho vazado (alguns perderam os dois) por ferimentos de balas de borracha dos carabineiros nas ruas de Santiago em 2019. A maioria dos jovens sequelados é mulher.
Um chileno hoje só com um olho deve pensar: o que ganhei com minha bravura, se os carabineiros venceram? Os carabineiros, que chegaram a ser condenados à extinção, durante os debates da primeira Constituinte, continuam vivos, e o sonho de uma Constituição progressista foi soterrado já no ano passado.
Relembrando que há três anos, depois de protestos quase diários em 2019, 80% dos chilenos disseram em plebiscito que não queriam mais a Constituição de 1980 da ditadura de Pinochet.
Mas no ano passado 62% disseram em referendo que não queriam a nova Constituição elaborada por uma Constituinte progressista, por ser considerada esquerdista demais.
Fizeram outra Constituição, saída das cabeças de uma maioria de extrema direita, considerada pior do que a de Pinochet, e essa nova carta magna foi rejeitada nesse domingo por novo referendo por 56% dos eleitores. Ainda bem que rejeitaram. É o único consolo.
Mas fica provado de novo que a democracia é cada vez mais um bem coletivo massacrado pelas artimanhas e crueldades do fascismo, um processo permanente que ficou cansativo e tortuoso. Os chilenos estão exaustos.
Que esse cansaço não nos contagie e não nos reaproxime de novo da extrema direita, que no Chile está viva e ainda é pinochetista. É muito triste e desolador.
Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes
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