Publicado originalmente no “Tijolaço”

A elite brasileira e sua expressão na mídia nunca entenderam o que pode vir a ser a presença no Brasil no mundo.

Para ela, fazer relações internacionais é quase que como “passar o chapéu” e ver o que se consegue, como investimento ou doação, dos países desenvolvidos e vender mais commodities, sem ponderar o seu custo natural (e social) para nosso país: grãos, carne e minérios, quanto menos processados melhor, porque indústria é uma bobagem, trabalhosa e cara.

Em geopolítica nunca foram além da expressão crua de Juracy Magalhães, o embaixador nomeado para Washington pelo golpe de 1964:”o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, estendendo-se este conceito para a União Europeia.

Assim, foca a sua atenção no desejo de uma adesão incondicional aos interesses econômicos de lá – por exemplo, a defesa de um “custe o que custar” em situações como a do acordo Mercosul-União Europeia (que vai sair, mas superando em parte a submissão ao protecionismo europeu no que tange aos produtos agrícolas e agroindustriais) ou nossa entrada na OCDE com a abdicação a qualquer possibilidade de darmos preferência à compra ou contratação de produtos ou serviços nacionais que para isso é exigida.

Mas, se é tacanha em questões econômicas, mais “viralatas” são nas políticas.

Acham que o handicap ambiental brasileiro deve ser útil apenas – embora deva ser também – para arranjar uns trocados a fundo perdido para a Amazônia e não para desenhar uma nova ordem nas relações entre o mundo desenvolvido e os que, historicamente, foram a lenha econômica de suas caldeiras.

Mas nada os chocou tanto quanto a “audácia” de Lula ao sugerir que o Brasil tivesse papel ativo na questão mais importante, hoje, nas relações globais: a necessária superação da guerra entre Rússia e Ucrânia, propondo uma mudança de eixo: em lugar de sanções e retaliações, cessar-fogo e negociações.

Acostumados e acomodados a uma visão minúscula de um país que é a quinta maior extensão territorial do mundo e que, apesar de todo o desastre dos últimos anos, ainda anda perto de ser a décima maior economia, trataram quase que de forma debochada a posição brasileira e ficaram sem palavras quando, depois dos acenos russos e até do “interesse” de Volodymyr Zelensky em conversar com o presidente brasileiro, a iniciativa brasileira ganhou eco no planeta.

Este ano de guerra, além de ter custado nada menos que US$ 3 bilhões e à queda à metade das perspectivas de crescimento da economia mundial mostrou que em nada serve a continuidade da crise. Não só por isso, nem pela alta dos preços de alimentos e energia, mas porque nos trouxe de volta a um cenário em que, de novo, voltamos a medir em tanques, foguetes e até mesmo ogivas as relações internacionais.