Já escrevi sobre o assunto, mas o momento me sugere que faça isso mais uma vez, dado o alvoroço em torno de uma capa da Economist que diz que o Brasil deve mudar.
A Economist repercute muito mais no Brasil do que na Inglaterra, sua terra.
Tive que vir para Londres, como correspondente, para saber disso.
Ao longo dos meus anos como diretor da Exame, tive sempre um exemplar da Economist comigo.
Entrevistei pessoalmente o diretor da Economist, na companhia rica do jornalista José Fucs, quando ele foi a São Paulo montar uma sucursal da revista, nos anos 1990.
E a assinei tão logo cheguei aqui em Londres, em janeiro de 2009.
Pois bem.
A Economist simplesmente não acontece na Inglaterra. Nos debates políticos e econômicos na televisão britânica, você não vê um jornalista da Economist.
Nenhum jornal inglês repercute as opiniões da revista, ao contrário do que ocorre no Brasil, ou ocorria, em relação à Veja.
Tudo isso porque a Inglaterra é a terra dos jornais, dos tabloides, dos furos, do hard news – e agora também, claro, do frenético jornalismo digital.
Revista é, desde sempre, um produto de segunda classe na mídia britânica, uma coisa que provoca mais tédio e bocejos do que reflexões e discussões.
E a Economist não é exceção.
Vou dar um testemunho pessoal. Depois de algum tempo em Londres, me desinteressei da Economist. Eu a recebia no apartamento na sexta pela manhã e não a tirava do plástico.
Num determinado momento, passei a colocar a nova edição, tão logo a recebia, no saguão do prédio, para quem quisesse pegar.
Às vezes passavam-se dias sem que ninguém pegasse a revista que eu deixara à disposição dos vizinhos.
Como explicar o prestígio da Economist no Brasil?
Em parte, em boa parte, pelo provincianismo da elite nacional. Citar uma centenária revista inglesa, ainda mais sendo “cabeça”, é, para muitos, sinal de status intelectual.
Olhando para trás, para minha carreira, fui eu mesmo vítima deste provincianismo, tenho que admitir.
Estive do outro lado, é verdade. Rio sozinho quando lembro de uma vez, em meus anos de editor da Exame, em que fui a Rio Claro, no interior de São Paulo. Minha visita à cidade foi registrada na coluna social do principal jornal.
Pausa para rir.
Quanto ao conteúdo em si, não há surpresa nenhuma no apoio da revista a Aécio.
É uma revista que surgiu com um slogan que dizia que o livre comércio é uma das “leis de Deus”.
A Economist é a voz das grandes corporações, do chamado 1%. E então seria previsível que ela apoiasse, entre Aécio e Dilma, quem representa os mesmos interesses.
Nos anos em que o mundo seguiu a doutrina ortodoxa thatcherista, de 1980 até a crise de 2008, a Economist ajudou a tornar seus leitores “mais idiotas”, como notou o site Salon.
A revista em nenhum momento notou o terremoto econômico que estava vindo exatamente por conta do thatcherismo.
As aplaudidas desregulamentações financeiras, para ficar num único caso, acabaram quebrando bancos gigantescos e deixaram economias como a americana e a europeia de joelhos.
Restaram, pelo colapso do thatcherismo, uns poucos economistas órfãos de seu receituário a favor do chamado big business.
Armínio Fraga é um desses órfãos.